O presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, recebeu os jornalistas de ISTOÉ no seu gabinete do Palácio do Planalto na tarde da quinta-feira 4. O resultado da entrevista feita por Tales Faria, chefe da sucursal de Brasília, e pelos editores Andrei Meireles e Guilherme Evelin, ocupa seis páginas desta edição e mostra surpreendentes momentos de humildade de um presidente nem sempre afeito a este mister. O leitor, certamente, não irá perceber esta humildade quando ele se compara a Franklin Delano Roosevelt e fala da depressão americana dos anos 30. Também não a encontrará quando, perguntado a respeito do cumprimento de seu destino histórico, por duas vezes seguidas Fernando Henrique Cardoso declara ter poder.

A humildade do presidente aparece quando ele admite ter cometido erros de avaliação na condução da política econômica. E ao dizer que, se não os tivesse cometido, estaríamos em melhor situação hoje. Resvala ainda na humildade quando diz não ter queixas da imprensa. Por um lado, não se pode deixar de registrar, não haveria muito do que se queixar porque basta a metade dos dedos de uma só mão para contar as publicações que, no contrafluxo, apontam a eventual ausência da vestimenta real. FHC demonstra equilíbrio quando diz que "a imprensa faz as vezes de oposição em nome da sociedade" e "assume a delegação não dada pelo povo e pela sociedade para, em nome deles, pressionar o governo".

Exemplo recente e concreto do que diz o presidente é a titubeante e tardia aprovação pela Câmara Municipal de São Paulo da CPI para investigar a espúria relação dos nobres vereadores paulistanos com a roubalheira praticada na área das administrações regionais e suas cercanias. A roubalheira veio à tona quando Soraia Patrícia da Silva, uma pequena empresária, se recusou a pagar uma propina de R$ 30 mil, denunciou o esquema e, a partir daí, a pressão da imprensa, em nome da sociedade, como bem diz Fernando Henrique, fez com que os vereadores mudassem de opinião e aprovassem a CPI. A propósito, Soraia Patrícia da Silva é uma das personagens do nosso assunto de capa desta semana que começa à pág. 74. Ela é uma mulher influente.