São apenas 60 anos, um tempo curto em termos históricos, mas suficiente para deixar a amarga constatação de como uma metrópole se deteriorou. Os registros fotográficos da alemã Hildegard Rosenthal mostram a São Paulo da década de 40. Uma São Paulo ainda gentil, de apenas 1,5 milhão de habitantes, generosa na sua urbanidade nada selvagem, e elegante, muito elegante. A fotógrafa imprimiu para o futuro uma cidade de arquitetura extremamente regular na sua portentosidade, mostrando pelas ruas aparentes regras de civilização impensáveis nos dias de hoje. São ônibus, bondes e carros trafegando em harmonia captada por velhas câmeras Leica, Graflex e Rolleiflex. Tipos humanos em seu mais requintado significado como o garoto jornaleiro, muito alegre e festivo na sua roupa seminova, ou o motorista de táxi, gentilmente – imaginem! – dando troco (!!!) para uma senhora que lhe mostra uma nota de valor alto. Além de personagens, as lentes de Hildegard também flagraram costumes da época. Entre as 52 fotos vêem-se a carroça do padeiro vagando quase solitária por uma arborizada avenida Angélica de paralelepípedos pintados pelo brilho da chuva, o entregador de leite, o de bebidas, todos em cenários emoldurados pela limpeza de praças e ruas construídas num tempo em que a cidadania e o orgulho pela sua cidade eram valores intrínsecos do cotidiano. Por estes conceitos, a exposição de Hildegard – resgatada pelo Instituto Moreira Salles de um conjunto de três mil negativos –, além do delicioso sabor nostálgico, provoca a triste sensação de que nunca mais os paulistanos poderão ser tão felizes como foram naquele passado recente. (A.R.)
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