Cerca de 1.200 cientistas, empresários e jornalistas se reuniram em 1º de março num hangar no meio do deserto de Mojave, no sul da Califórnia, para conhecer um revolucionário lançador de satélites, o primeiro astrocóptero da história. Dom Quixote talvez o confundisse com um moinho de vento com as pás colocadas no lugar errado. Ele também lembra o silo de grãos de algum agroboy moderninho. Seu nome é Roton, construído pela Rotary Rocket. Foi criado para disparar em direção da órbita terrestre de forma convencional e, logo após a reentrada na atmosfera, estender suas pás para pousar suavemente como um helicóptero. O protótipo foi feito em escala natural e mede 19 metros. Ainda não possui propulsores nem irá ao espaço. Deve apenas voar uns mil metros para checar o funcionamento do rotor. Gary Hudson, o presidente da Rotary, já gastou US$ 30 milhões no projeto. O dinheiro é de investidores como o romancista Tom Clancy, autor de Caçada ao Outubro Vermelho, que entrou com US$ 1 milhão.

Faltam ainda US$ 150 milhões para lançar em 2000 um Roton de verdade. Este será comandado por dois pilotos, pesará 200 toneladas e levará até 3,2 toneladas de carga. Segundo os cálculos, acelerará até 27 mil km/h, 25 vezes a velocidade do som. Hudson não esconde que o principal motivo para a festa de apresentação do Roton é atrair mais dólares para o seu caixa. Ele conta vários argumentos. O mercado de satélites de comunicação está explodindo. Nos últimos 24 meses, a Iridium, primeira empresa a operar celulares de uso global, enviou 66 deles lá para cima. Agora é a vez dos concorrentes GlobalStar (52 satélites) e ICO (12). A partir de 1999, o Teledesic, megaprojeto de Bill Gates orçado em US$ 9 bilhões, irá montar uma constelação de 288 satélites para oferecer acesso ultraveloz à Internet em escala planetária. Estima-se que entre 1998 e 2007 nada menos que 1.600 satélites necessitem pegar carona em algum veículo espacial. Só que os meios existentes, ônibus espaciais americanos e foguetes russos e chineses, não darão conta do recado. É aí que entra a iniciativa privada. Existe uma dezena de empresas bolando maneiras de colocar carga em órbita. Quem saiu na frente foi a Rotary.

Na corrida para abocanhar uma fatia desse bilionário mercado, o segredo é reduzir ao máximo o custo de lançamento, que é de US$ 5 mil por quilo nos ônibus espaciais e de US$ 2,5 mil no foguete francês Ariane. Com seu Roton, Hudson espera cobrar apenas US$ 500. Qual o segredo? Ao contrário dos foguetões tradicionais, que se vão desmembrando e despejando dois ou três estágios na ascensão, o astrocóptero tem apenas um estágio e não solta peças no espaço. Isso o torna reutilizável, podendo decolar para uma nova missão poucos dias após voltar de outra. Mais um fator de barateamento é optar pelo querosene de aviação como propelente e não pelo hidrogênio líquido. Além de caro, esse deve ser transportado em tanques até sete vezes maiores que os de querosene. Tanques maiores significam mais peso e maior resistência aerodinâmica. Sem falar nos propulsores, que pesam o dobro daqueles que queimam querosene.

Na ponta do lápis, cada missão do Roton custará US$ 7 milhões, contra os US$ 500 milhões do ônibus espacial. A Nasa, aliás, já trata de fazer cair esse valor. Neste momento, no Centro de Pesquisa de Vôo Dryden, também em Mojave, está sendo testado o VentureStar X-33 (acima), projeto da Lockheed-Martin. É uma miniatura da nova geração de shuttles, idealizada para voar no século XXI.