Entre os executivos das principais emissoras do País um fato é dado como consumado. Começou a era dos apresentadores na televisão brasileira. A tendência detectada por pesquisas se tornou evidente quando a Rede Globo contratou quase de uma só vez Ana Maria Braga, Sergio Groisman, Jô Soares e Luciano Huck, sem contar que mantém na mira o espevitado VJ Cazé, da MTV. Não se tratou apenas de estratégia predatória para desfalcar a concorrência, mas um golpe para afinar a maior emissora do País com uma moda mun-dial. Os indicadores são claros. Recentemente Silvio Santos encomendou uma pesquisa específica ao instituto Re-trato Consultoria e Mar-keting para avaliar o Programa do Ratinho, atualmente enfrentando pequenos abalos na audiência provocados pela novela global Terra nostra. As 56 páginas nas quais há respostas de habitués do programa, selecionados entre mais de 200 pessoas, produzem uma conclusão clara. Ratinho faz sucesso porque é autêntico – ainda que às vezes confunda autenticidade com maus modos – e porque fala o que as pessoas entendem. Além de ser um tipo que pode ser encontrado em qualquer esquina.

A receita, portanto, é criar uma suposta proximidade com o espectador. Daí a necessidade da figura do apresentador e de um programa que seja espelho da sua personalidade. Para Maria Tereza Monteiro, diretora-executiva do Retrato, eles se tornaram “mestres-de-cerimônias do Brasil real”. Ratinho veste o rótulo. “Eu conto que briguei com minha mulher no ar e pareço um amigo íntimo deles”, diz ele. Com Ana Maria Braga acontece algo semelhante. “As pessoas me encontram na rua e não há um preâmbulo para as conversas, elas vão me contando suas intimidades, com aquela cumplicidade que toda amiga gosta de ter.” Como o jogo é pesado, Sergio D’Antino, advogado e agente artístico da maioria das estrelas da televisão brasileira, vem alardeando há algum tempo o aumento do espaço dos apresentadores. “A tevê aberta do ano 2000 será deles e do jornalismo e só a Rede Globo continuará com novelas.” Afinal, mesmo ganhando fortunas, os apresentadores ainda custam bem menos que os folhetins e conseguem entreter o espectador por horas a fio. “É mais ou menos o que acontece nas rádios AM, em que os grandes fenômenos são comunicadores como Paulo Lopes”, afirma D’Antino.

Na segunda-feira 18, Ana Maria Braga, depois de ficar 191 dias fora do ar, dará a largada para a nova era dos comunicadores televisivos. Volta a exercer sua porção amiga da dona de casa com Mais você, revista feminina diária que será exibida às 13h30, deslocando o Vídeo show para o sábado à tarde. Embora seja ao vivo, como nos tempos da Record, o programa terá apenas uma hora e não as cinco da antiga emissora. “Antes eu fazia um suco gostoso, mas suave. Agora, com a mesma fruta, faço um suco concentrado”, define ela. Embora a receita seja semelhante, os ingredientes prometem ser bem mais finos. Semana passada, por exemplo, ela gravou um piloto com o chef francês Emmanuel Bassoleil. Para manter o clima de sempre, o louro José chamava o francês de “ Ô, Manuel” enquanto a loira fazia uma tremenda ginástica para explicar os segredos de uma boa batata sauté.