Os sorridentes senhores vereadores da Câmara Municipal de São Paulo comemoram uma vitória. Festejam a derrubada, por 29 a 24 votos, da criação de uma CPI que pretendia investigar o envolvimento de seus representantes na corrupção das administrações regionais, loteadas pelo prefeito Celso Pitta entre os vereadores amigos em troca de apoio. Uma única regional pode render aos que estão no andar de cima da roubalheira municipal a inacreditável soma de R$ 6 milhões por mês. Isso mesmo, são R$ 72 milhões anuais. Um dinheiro significativo em qualquer lugar do mundo e mais ainda em um país como o Brasil, onde o governo federal acaba de cortar R$ 48 milhões do programa Comunidade Solidária, o suficiente para a compra de 1,5 milhão de cestas básicas. O dinheiro desviado pela quadrilha somente numa das 27 regionais da prefeitura poderia alimentar milhões de brasileiros.

Toda esta lama está vindo à tona depois que uma comerciante indignou-se com um achaque de R$ 30 mil e denunciou o caso. A partir daí, o trabalho de quatro promotores estaduais, trajando coletes à prova de balas, e da polícia já rendeu a prisão de 24 pessoas ligadas ao esquema que, como todos os depoimentos e evidências indicam até agora, começa e termina na Câmara Municipal. José Carlos Blat, um dos promotores responsáveis pela faxina da administração paulistana, se diz perplexo com a ousadia do bando: "Eles ainda continuam operando normalmente. Sentem-se tão impunes que aceitam até cheque pré-datado." Enquanto isso, o prefeito Celso Pitta, na inauguração da barragem de Porto Primavera, pedia ao presidente da República para participar do encontro com os governadores a fim de renegociar a dívida da cidade e, singelamente, dizia que a derrubada da CPI faz parte do jogo democrático.