Foi um banho de móveis e estofados do outro mundo. Começou com as revistas estrangeiras de decoração. Depois, multiplicaram-se vitrines com móveis italianos e escandinavos. Hoje, o melhor design importado e nacional virou sonho de consumo. Decorar a casa tornou-se um cult que todos querem ter ao alcance. O empecilho, como sempre, são os preços. A classe média, que apurou seu gosto, mas continua sem dinheiro, ficou a ver vitrines? Engano. Prospera nos bastidores do fabuloso mundo da decoração um mercado para atender quem tem bom gosto e bolso curto. São lojas que vendem móveis assinados de segunda mão, pontas de estoque de griffes famosas, grandes liquidações. E como móveis chiques nem sempre garantem uma bela casa, muita gente aprendeu que contratar decorador, ainda que por duas horas, não é luxo.

Consultoria em decoração é uma atração. Em algumas horas recebem-se orientações para não cair no erro do sofá desproporcional, das cores erradas e da desarmonia de estilos. Economizam-se decepções e dinheiro. "Ninguém deve inibir-se em procurar um decorador mesmo com um orçamento curto", incentiva a arquiteta Carolina Szabó, presidente da Associação Brasileira de Decoradores (ABD). "O risco de se perder é grande sem orientação." A hora com um profissional varia de R$ 50 a R$ 200. "É um serviço pouco conhecido que as pessoas começam a descobrir", diz a decoradora Isabel Franco, que cobra R$ 50 a hora. "Muitas pessoas têm sonhos mas não sabem como realizá-los", diz. "O sofá não é uma saia que você enjoa. Reformas e compras devem ser planejadas."

Cliente de Isabel, a paulistana Elvira Salles cansou de errar. "Combinei mal as cortinas, não sabia onde pôr a tevê. Estava horrível", conta ela, hoje feliz com a orientação. O executivo Jeferson Messias também consultou Isabel para reformar seu sobrado em São Paulo: "Ela passou tudo mastigado. Indicou os estofados com esquema de cores e desenhou móveis como a mesa de jantar." No Rio, a nutricionista Débora Wajcberg adorou as dicas de Lúcia Gomes e Claudia Reis para o apartamento em Copacabana. "A sala é pequena, mas elas encaixaram poltronas e mesa de jantar." "Damos uma solução imediata e de baixo custo", diz Lúcia, que cobra R$ 120 a consulta. Elas têm um site na Internet (https://www.antares.com.br/~lucia).

Unir dicas às ofertas pode ser a chave para montar a casa sonhada. Sempre há liquidações onde é possível peneirar bons negócios. O "bota-fora" no shopping D&D, templo da decoração em São Paulo com preços sempre inacessíveis, viabilizou extravagâncias. Havia mesas de jantar de R$ 3 mil por R$ 500. "Nossa clientela ficou mais abrangente", avalia Marta de Vitto, superintendente do D&D. O movimento (300 mil pessoas/mês) cresceu 50% e o faturamento 30%. No Rio, a promoção no shopping Rio Design Center oferece porta-CDs de R$ 120 por R$ 80.

Não surpreende mais ver até lojas de móveis assinados de segunda mão. A pioneira foi a Herança Cultural, em São Paulo, aberta há três anos. "Temos peças contemporâneas e móveis dos anos 50 que restauramos", cita a decoradora Maria Alice Casas, proprietária. Vendidos por 50% do preço de um novo, nem sempre são baratos. Mas se fazem bons negócios. "São móveis assinados e que têm uma história", explica a gerente Meca Gluglielmetti. A loja tem o serviço SOS House – em que Maria Alice dá consultoria. Há ainda sistemas como o de "família vende tudo". Às vezes é uma roubada, mas dá para encontrar peças de arte e antiquários a bons custos. Comum nos Estados Unidos, a open house sale cresce no País. A Equipe Regina, empresa que organiza vendas como essas, envia mala direta para os cadastrados.

Móveis de designers conhecidos com descontos são outra opção. O designer Márcio Colaferro abre em março um show-room de fábrica em São Paulo com móveis próprios e de designers nacionais. "Dá para ter em casa peças assinadas", diz Colaferro. "Aconselho às pessoas ir montando a casa por etapas." A decoradora Rita Lima Barbosa também. Dá assessoria por R$ 60 a hora e não cobra o projeto quando o executa, mesmo que não seja na sequência. "Tenho clientes que há um ano estão reformando."

Aproveitar os próprios móveis também traz personalidade à casa. "É possível fazer uma redisposição, acrescentando dois ou três objetos novos", diz o decorador Fábio Arruda, que cobra R$ 120 por hora. "Ninguém pode dizer: esse móvel é um horror. A cadeira que não combina pode ser importante para o dono." Sob orientação de Arruda, Rodrigo Brea, 31 anos, executivo de marcas e patentes, aproveitou os móveis na reforma do apartamento de 60 m2 em São Paulo. O sofá ganhou capa, a cômoda de infância foi para a sala e a cadeira de balanço da avó, reformada. "Fábio indicou a mão-de-obra e em um mês a reforma terminou", diz Brea.

Investir em uma peça mais cara e sofisticada funciona bem. Em pontas de estoque de griffes famosas, há descontos para móveis com pequenos defeitos ou fora de linha. Um exemplo é a da loja Novo Rumo, em São Paulo. A Arredamento dá descontos de até 40% para peças que saem da vitrine. A história da rede Tok Stok, com 15 lojas no País, correu paralela a do gosto da classe média. Há 20 anos tinha só uma linha de design e hoje mais de 40% de seu mobiliário é de designers brasileiros e estrangeiros. "Ao descobrir bons desenhos, o consumidor ficou mais exigente", lembra Ademir Bueno, gerente de tendências da Tok Stok. Curtir a casa tornou-se um hábito. "Por segurança, as pessoas se fecham mais e querem valorizar suas moradias. Ter um sofá bonito não é desejo só de quem tem posses", diz o arquiteto João Armentano. Ainda bem que ficou mais fácil comprá-lo.

Colaborou Clarisse Meirelles (RJ)