A indústria de tecnologia viveu um precedente histórico. Por um curto espaço de tempo – da segunda-feira 22 até a sexta-feira 26 –, os chips mais potentes para PCs não eram da todo-poderosa Intel, dona de 75% do mercado. Por 144 horas, os melhores processadores eram os K6-3 de 400 MHz e de 450 MHz, da arqui-rival AMD, com 15% das vendas mundiais. Para a Intel, acostumada a alavancar todas as novas gerações de chips desde os modelos 286, 386 e 486 dos anos 80, passando pelo Pentium em 1994, o precedente foi perigosíssimo. Na terça-feira 23, a empresa tentou ofuscar o brilho do recém-lançado K6-3 mostrando um Pentium III rodando a velocíssimos 1002 MHz. Seria o processador mais potente do mercado não fosse um protótipo só disponível em 2001. A volta por cima foi dada na sexta-feira, com o lançamento do Pentium III, nas velocidades de 450 e 500 MHz.

Exibição de animações tridimensionais e programas de reconhecimento de voz, aplicativos sedentos por capacidade de processamento, foram a regra entre os mais de 200 sites e games de parceiros da Intel e apresentados como exemplos de uso do PIII por seu presidente, Craig Barrett, em San Jose, na Califórnia. Havia de tudo, desde games incrivelmente realistas em que o jogador era um tiranossauro rex tentando devorar o maior número de humanos possível até sites de localização de ruas em Tóquio a partir de imagens de satélites e o noticiário da CNN transmitido direto de uma redação de jornal virtual na Web.

"Em 2005 haverá um bilhão de computadores conectados à Internet", disse Barrett. "O maior desafio da indústria não é fornecer acesso a esses usuários, mas sites com conteúdo rico." Na lógica da Intel, sites ricos são aqueles que devoram o poder de processamento e precisam de chips mais potentes. A empresa vai gastar US$ 300 milhões para promover o produto. Não será tarefa fácil. O processador chega alvo da fúria dos movimentos de defesa da privacidade, contrários à inclusão nele de um número de série. "Inserimos o identificador a pedido de nossos clientes, que desejam aumentar a segurança nas transações online", alegou o vice-presidente da Intel, Mike Aymar. Os manifestantes não concordam. Acham que o número servirá para identificar usuários na Web.

Mas a pior barreira que o PIII enfrentará não é a da privacidade, e sim a do preço. Os primeiros PCs com ele chegam às lojas dos EUA em março custando a partir de US$ 2.000. É muito, principalmente num país onde os PCs custando menos de US$ 1.000 já são uma realidade. No Brasil, então, o fator preço será um obstáculo quase intransponível. Pode-se esperar tranquilamente valores na casa dos R$ 5.000. É aí que a AMD ataca de novo. "Para ser justo, nós detínhamos a vantagem tecnológica desde maio de 1998, quando instruções 3-D foram colocadas no K6-2", garante Celso Previdelli, gerente-geral da AMD para a América do Sul. Se essa vantagem técnica acabou com a chegada do PIII, a competitiva se mantém inalterada. "Um PC com K6-3 de 400 MHz deve custar R$ 1.000 a menos que outro com o PIII-450, e assim mesmo terá performance superior", diz Previdelli.