Acordar cedo e ir trabalhar. Sair da empresa e tentar chegar em casa antes do jantar. Rotina maçante, mas que vale a pena. Afinal, Deus ajuda quem cedo madruga, certo? Nem sempre. O funcionário que cumpre um horário rígido não é necessariamente o que mais produz. Muitas vezes adequar o cartão de ponto às necessidades de cada um é a maneira certa de ter uma produção mais eficiente. Foi pensando nisso que empresas do mundo todo passaram a trocar o horário de seus funcionários por uma forma flexível de controlar o tempo. “Na prática, o flextime (horário flexível) significa que um trabalhador com uma carga horária de oito horas por dia não precisa necessa-riamente entrar às 9 horas, ter uma hora de almoço e sair às 18 horas. Ele pode entrar às 10 ou às 11 e sair às 19 ou às 20 horas”, explica o americano David Ralston, diretor da Faculdade de Comércio Exterior da Universidade de Oklahoma. “Várias empresas americanas, constataram um aumento na produtividade de 1% a 5% depois do flextime”, conta.

Nos Estados Unidos, o flextime é regra em quase todas as empresas. E, no Brasil, a moda parece que pegou. Uma pesquisa realizada pela Hewitt Associates, consultoria de recursos humanos de São Paulo, com 180 empresas brasileiras, constatou que 73% delas já adotaram um programa de horário flexível. A IBM do Brasil é um exemplo. “Há cinco anos, criamos o work time balance, com duas horas flexíveis e seis horas fixas. Nesse semestre, aumentamos para três as horas flexíveis e criamos a semana comprimida, na qual o funcionário pode trabalhar mais horas por dia para folgar durante um período da semana”, explica Doris Fonseca, responsável pelo departamento de recursos humanos.

Esse esquema de comprimir a semana veio a calhar para o analista financeiro da IBM de Campinas, Paulo Sérgio Faria, 32 anos, que há algum tempo desejava tirar seu MBA (Master in Business Administration, o mestrado em Administração), mas não podia pela carga horária de trabalho. “Quando soube que a empresa tinha adotado a semana comprimida, não pensei duas vezes, falei com meu chefe e me matriculei no curso para tirar o MBA”, conta Faria. Ele agora trabalha uma hora a mais por dia de segunda a quinta-feira para poder folgar às tardes de sexta-feira e ir a São Paulo cursar as aulas que lhe darão o diploma. Pensando mais em sua vida pessoal, a carioca Maria de Lourdes Marques, 30 anos, também analista financeira da IBM, preferiu fazer uso do work time balance. Ela optou pelo horário flexível, em janeiro deste ano, quando voltava da licença maternidade de sua filha Ana Clara.“Escolhi entrar um pouco mais tarde para continuar amamentando”, explica Maria de Lourdes.

Relaxódromo – Há empresas, que além do flextime, inventaram outras formas de proporcionar maior bem-estar a seus funcionários. A empresa de informática Microsiga, de São Paulo, criou também dois intervalos de 15 minutos, um pela manhã e outro à tarde, para que os funcionários possam relaxar um pouco e retomar o trabalho com mais vigor. “Tenho um tempo para fumar uns cigarros perto da piscina da empresa e pensar em questões particulares”, diz o analista de sistemas Alessandro Freire, 24 anos. Essa nova tendência das empresas vai além do horário. Algumas planejam criar espaços de relaxamento dentro do trabalho. A arquiteta gaúcha Lívia Bortoncello e a psicóloga Ana Maria Rossi já elaboraram projetos para companhias no Rio Grande do Sul. “São verdadeiros relaxódromos, com sofás e relaxamento acústico”, diz Lívia. “O trabalhador precisa descontrair em alguns instantes do dia, senão corre o risco de acabar estressado”, completa Ana Maria, que dirige uma clínica de stress em Porto Alegre. A conclusão é que, na verdade, mais vale quem a empresa ajuda do que quem cedo madruga.