A polícia argentina prendeu na segunda-feira 15 a viúva e um dos filhos do chefão do extinto Cartel de Medellín, o colombiano Pablo Escobar Gavíria, morto em 1993. Victoria Hernao Vallejos e seus dois filhos viviam há quatro anos com vistos concedidos pelo governo argentino num apartamento de classe média no bairro de Núñez, em Buenos Aires. Viviam bem sem ser importunados.

A pedido da Justiça, a detenção dos familiares do narcotraficante foi deflagrada duas horas depois de uma reportagem na televisão mostrar uma mansão que pertenceu à viúva, no chique condomínio Las Praderas, nos arredores de Buenos Aires.

Atrás das grades, os herdeiros de Escobar estão sendo agora investigados por suposta lavagem de dinheiro proveniente de drogas. O ex-presidente argentino negou qualquer ligação do governo com os traficantes colombianos. “A presença da viúva não significa que a Argentina esteja assentada no narcotráfico”, disse. Menem considera que a entrada dos parentes de Escobar se deveu ao fato de a Argentina ser uma “pátria aberta”. Eles já haviam feito várias tentativas de exílio frustradas, inclusive em território argentino. Mas desde o início de 1995, ninguém sabia do paradeiro da família. Depois da morte do marido, Victoria trocou seu nome para Maria Isabel Caballero, temendo ser assassinada. Naquele mesmo ano, o governo Menem outorgou um visto como “imigrante com capital” – categoria concedida a quem tem mais de US$ 100 mil para investir no país. Na época, a viúva já havia adquirido um terreno em Puerto Madero, uma zona altamente valorizada em Buenos Aires. O terreno foi revendido.

Na Argentina, calcula-se que Victoria tenha movimentado cerca de US$ 2 milhões – uma ínfima parte da fortuna do traficante, responsável por mais de 85% da cocaína vendida no mundo nos anos 80. Parte do espólio dele está confiscada pela Justiça colombiana, mas os advogados da família tentam vencer uma batalha para apoderar-se da fortuna de mais de US$ 3 bilhões. “Ela tentava legalizar os bens aqui na Argentina”, disse a ISTOÉ um dos assistentes do juiz federal Gabriel Cavallo, que determinou a prisão. A mais forte indicação da suposta lavagem de dinheiro é a existência de uma imobiliária, com sede em Montevidéu, em nome da viúva e do contador Juan Carlos Zacarías. A lavanderia funcionaria nessa empresa. Um romance mal resolvido entre Zacarías e Victoria teria trazido à tona o crime. Zacarías teria extorquido US$ 500 mil, além de exigir US$ 25 mil mensais da viúva para não revelar sua verdadeira identidade às autoridades argentinas. Ela decidiu, então, entrar na Justiça para reaver o dinheiro. Os dois terminaram presos.

Apesar da vida de ostentação nos tempos do Cartel de Medellín – Escobar tinha um zoológico particular com zebras e flamingos -, a viúva levava uma vida pacata em Buenos Aires. Sem sinais de riqueza, a não ser pelos poodles apelidados com nomes de pintores, como Picasso e Michelangelo. Nas últimas semanas, Victoria foi a um cabeleireiro próximo ao seu apartamento. “Ela veio duas vezes. Era muito discreta, nem notei seu sotaque colombiano”, disse a ISTOÉ uma cabeleireira que a atendeu duas semanas antes da detenção. Coincidentemente, o salão chama-se Angélica Escobar, um sobrenome de uma família que causou arrepios às autoridades americanas e hoje incomoda as argentinas.

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