Num gesto histórico no processo de paz na Irlanda do Norte, o Exército Republicano Irlandês (IRA) concordou na quarta-feira 17 em negociar a entrega de suas armas. Apesar de não falar sobre o fim da guerra que já matou mais de três mil pessoas na província britânica, esta é a primeira vez que os extremistas católicos admitem a idéia de desarmamento. “O IRA está comprometido de maneira inequívoca com a busca da paz, da liberdade e da justiça no Ulster. Entende que o Acordo de Sexta-Feira Santa (10 de abril de 1998) é um significativo progresso e acredita que sua plena aplicação contribuirá para a conquista de uma paz duradoura.” Nessa declaração, o IRA ainda garantiu designar um representante para dialogar com o general canadense John de Castelain, da Comissão Internacional Independente para Desarmamento, que deverá supervisionar a entrega das armas.

Negociações – O anúncio feito pelo líder do católico Sinn Fein (braço político do IRA), Gerry Adams, foi depois de o Partido Unionista do Ulster renunciar também à violência, comprometendo-se com o acordo de Belfast.

O cacique do partido, David Trimble, declarou que os protestantes “reconhecem que é legítimo aos nacionalistas persistir na Irlanda unida exclusivamente através de processos democráticos”. A democracia a que o líder unionista se refere é um parlamento composto por católicos e protestantes. O Acordo de Sexta-Feira Santa assinado no ano passado prevê justamente a formação desse parlamento. Mas os unionistas (maioria no Parlamento e a favor da Irlanda do Norte continuar sob o comando da Grã-Bretanha) se recusaram a aceitá-lo, alegando que só o fariam se o IRA entregasse suas armas. A difícil missão para Trimble agora é justamente convencer seus partidá-rios de que o IRA está realmente comprometido com o processo de paz.

O otimismo maior ficou por conta do negociador, o ex-senador americano, George Mitchell, que costurou o acerto. Apesar de o IRA estar num cessar-fogo de dois anos, os unionistas radicais não queriam sentar-se à mesa de negociações até que fosse acertada a entrega das armas, ainda sem prazo para ocorrer. Porém pode ser cedo para Mitchell e irlandeses comemorarem. Há muito ainda que se fazer para se entrar nos trilhos da paz na Irlanda do Norte. Uma pesquisa recente no país, mostrou que crianças com apenas dois anos já demonstram os traumas da separação entre católicos e protestantes numa guerrilha que já dura 30 anos.