No início dos anos 90, Moraes Moreira foi uma das poucas vozes a se levantar contra a banalização das canções do Carnaval de Salvador, contaminadas pelo apelo fácil da axé music. Na ocasião, levou seu trio elétrico para outra freguesia, no caso, Recife. O tempo passou, a axé continua firme sem alterar seu estilo, mas Moraes se redimiu com seus conterrâneos sacolejantes. Em seu novo disco, 500 sambas, ele reconta em versos espirituosos a trajetória da face mais festiva da música brasileira, associada principalmente ao Carnaval e, pasmem, celebra com generosidade a fartura de grupos baia-nos, não esquecendo de citar nem os mais rebolativos. O título do disco se justifica. É um empenho de catalogar ao seu modo a história da música brasileira, homenageando gêneros distintos. Um samba genuíno, por exemplo, convive em versos e referências com o meloso pagode glitter. Em seu caldeirão pop carnavalesco, Moraes também faz paródia da insistente malícia – para não falar vulgaridade – que desponta em algumas canções como em Só de sacanagem.

A profusão de citações não pára por aí. Há a alegria das marchinhas – a divertida Melô do camarote é um dos melhores momentos do disco -, além da esperada incursão no estilo dos trios elétricos, gênero que o cantor e compositor se mostra imbatível. Para quem gosta de folia, o CD é um ótimo passaporte. Só não é perfeito porque, perdido em confetes, Moraes Moreira reforça algumas idéias discutíveis. 500 sambas parece querer reafirmar a todo momento a vocação brasileira quase única para Carnaval, samba e futebol. Não deixa de ser uma imagem verdadeira, mas reducionista.