Pesquisadores da Universidade de Brasília acabam de desenvolver um projeto no qual o mouse vira peça obsoleta: ele é substituído, no comando do computador, por gestos de mãos diante da tela. Mais: na Universidade de Stanford, nos EUA, está sendo desenvolvida uma engenhoca chamada EyePoint que também manda o mouse para o museu: ela possibilita que se abram programas com uma simples piscadela. Tudo isso é real, embora pareça a ficção de Steven Spielberg no filme Minority report: o policial interpretado por Tom Cruise exibia a chamada “tecnologia gestual”, sistemas eletrônicos que dão às máquinas a capacidade de “interpretar” gestos e transformá-los em ações na tela do computador. Cruise usava luvas com pontos reflexivos que eram reconhecidos por câmeras e sensores infra-vermelhos. Era o futuro, dizia Spielberg em 2002. Rapidamente esse futuro chegou.

 

“A tecnologia gestual é uma forma natural de interagirmos com as máquinas”, diz Ticiano Bragatto, da Engenharia Elétrica da UnB. Para desenvolver a sua técnica de gestos ele se valeu de uma webcam e de um software. “O programa associa movimentos das mãos a ações na tela. A câmera capta esses movimentos e repassa para o cérebro da máquina”, diz ele. “Para que possamos falar com máquinas é preciso que elas nos interpretem”, diz Marcus Lamar, do Departamento de Ciência da Computação da UnB. Para usar o sistema, eles explicam que é preciso ajustar o programa selecionando pontos da pele do usuário para que o software consiga diferenciar mão e rosto. A partir daí, coloca- se a mão diante da câmera e ela é reproduzida na tela. Abre-se um programa que começa a interpretar e gravar os movimentos feitos para ativar comandos – a palma da mão aberta significa movimentar o cursor, o punho cerrado comanda o duplo clique, a mão de forma lateral e na vertical representa o clique esquerdo (para abrir pastas) e, na horizontal, inicia um novo programa.

Diante dessas inovações, a pergunta é: como não se pensou nisso antes? Há, no entanto, quem esteja muito além dessa pergunta. Depois de fazer o computador entender um “aceno”, que tal dar uma piscadela para ele? É nisso em que pensou o professor de engenharia Terry Winograd, da Universidade de Stanford. Ele desenvolveu o EyePoint, software que usa tela de computador equipada com câmera de alta definição e luzes infravermelhas, baseado no “sistema de rastreamento do movimento dos olhos”. Para que o programa funcione basta estar diante do computador e o infravermelho é acionado, “lendo” o movimento dos olhos.

Apesar de essas ferramentas ainda estarem passando pela fase final de testes, o peso pesado da informática Bill Gates (dono da Microsft) exibiu um computador que exclui o mouse. Trata- se do Microsoft Surface com programa que permite o acesso com um toque na tela. A rede de hotéis Sheraton colocará à disposição do público nos EUA essa nova tecnologia. E, como tudo na vida tem seu preço, a falta de mouse também o tem: cada computador custará US$ 10 mil.

O primeiro mouse a gente nunca esquece

Foi em 1962, no Instituto de Pesquisa Stanford, nos EUA, que o pesquisador Douglas Engelbart criou aquilo que mais tarde seria mundialmente conhecido como mouse. “Pensei em desenvolver um tipo de equipamento que funcionasse com a praticidade de uma caneta, com cabo flexível ligado ao console eletrônico”, disse ele numa de suas conferências. A primeira patente dessa engenhoca ganhou o F pomposo nome de Indicador de Posicionamento X e Y – tão esquisito quanto o seu formato (na foto, nas mãos de Engelbart). Tratava-se de uma caixinha de madeira com duas roldanas que, conforme rodavam sobre a mesa, tinham o movimento exibido na tela do computador. Ao demonstrar a nova invenção aos colegas, ele ouviu que o aparelho parecia um rato – assim nasceu o nome mouse (rato em inglês).