Uma dose cavalar da história da colonização portuguesa no Brasil será exposta entre os dias 20 e 28 deste mês, em São Paulo. A história, no caso, está encorpada em um dos mais belos animais domesticados que os portugueses trouxeram para cá logo depois do descobrimento: o cavalo puro-sangue lusitano. Para comemorar os 500 anos da raça no Brasil, a capital paulista abrigará uma exposição e um leilão, na terça-feira 23, de exemplares dessa nobre espécie. Nobre mesmo. O cavalo lusitano, que na Espanha é chamado de andaluz, representa a linhagem portuguesa do milenar corcel ibérico, cujos primeiros registros datam de cinco mil ano. É o primeiro cavalo de sela de que se tem notícia. É também o animal que serviu às cavalarias dos exércitos gregos e romanos e em cujo lombo reis venceram, e perderam, intermináveis guerras da Europa medieval.

Isso porque, dizem os criadores, não há cavalo melhor para se montar. “Principalmente para longas viagens, pois é um animal resistente, dócil e corajoso”, afirma o publicitário Eduardo Fischer, dono do Haras Villa do Retiro. É da sua criação que serão leiloados 16 dos 27 lotes apregoados. Os outros são importados de Portugal. Embora em leilões passados o preço por um único cavalo tenha chegado a R$ 150 mil, o valor médio de cada um deles, ao bater do martelo, é de cerca de R$ 40 mil – preço do carro Classe A Elegance, da Mercedes. “Quero que o mercado diga o valor de cada um, pois o lusitano é o Rolls-Royce dos cavalos”, compara Fischer, dono de 120 exemplares. Não é qualquer um que dirige um Rolls-Royce, não é qualquer um que monta um lusitano. Eduardo Fischer, por exemplo, é dono da agência Fischer América e faz parte de um seleto grupo que tem como integrantes os empresários José Victor Oliva, João Joaquim de Almeida Braga, um dos só-cios da cervejaria Dado Bier, Luís Ermírio de Moraes, filho de Antônio Ermírio, do Grupo Votorantin, e o diretor de televisão Jayme Monjardim.

Para celebrar a raça, alguns desses criadores e outros cavaleiros irão participar de uma cavalgada no Parque do Ibirapuera, no sábado 20. A atriz Ingra Liberato, 33 anos, quer aproveitar a ocasião para matar as saudades. “Quando eu era criadora, dormia com eles, vivia com eles”, diz a atriz, que durante cinco anos, tempo que durou seu casamento com o diretor Jayme Monjardim, cuidou diariamente de 30 cavalos. “Desde a novela Ana Raio e Zé Trovão eu me apaixonei por esses animais e os lusitanos são os meus prediletos”, afirma ela, que se separou do diretor e, ao se mudar para o Rio de Janeiro para retomar a carreira, também dos cavalos. “A sensação de galopar um garanhão, pela sua potência e virilidade, é como estar voando. É indescritível”, explica a atriz. Tonico Pereira, presidente da Associação de Criadores de Cavalos Lusitanos, diz que uma das maiores qualidades do lusitano é a tranquilidade. “Para mim, que trabalho 12 horas por dia, cuidar dos animais funciona como uma terapia. Acredito que os cavalos têm um fio-terra poderoso que puxa toda a energia negativa das pessoas”, afirma Pereira, dono de 180 cavalos. Seu pai, Tony Pereira, foi o primeiro brasileiro a importar a raça para criação, em 1972. “O lusitano não é o cavalo mais caro do mundo, mas é das raças mais valorizadas pois é um animal companheiro, polivalente e inteligente. Eu até converso com eles”, garante Tonico. O criador explica que, embora seja um cavalo resistente e rústico, que não exige maiores cuidados na criação, seu preço é alto devido ao pequeno número de exemplares. Só existem 25 mil cavalos puro-sangue lusitanos no mundo, seis mil deles no Brasil. Mas seu sangue, não tão puro, está presente nas raças mais comuns do Brasil, como os manga-largas e o campolina.