Foram mais de 2,5 milhões, principalmente italianos, portugueses, espanhóis, alemães e japoneses. Para esses marginalizados em sua própria terra, o Brasil era um “país gigantesco em que batatas são do tamanho de uma cabeça”. Parte da saga desse povo está contada nas 80 páginas do livro E chegam os imigrantes…, da professora de História Sônia Maria de Freitas, da USP. Os imigrantes chegaram cheios de esperança, conforme o livro documenta. Eles vieram para “fazer a América” – e não havia diferença entre a do Norte e a do Sul. Queriam trabalhar no Novo Mundo. São Paulo vivia uma crise de mão-de- obra com a iminente extinção do sistema escravista. Pelo preço de um escravo podiam-se trazer 16 trabalhadores da Europa. Em crise econômica e cheia de desempregados, a Itália forneceu a maioria dos imigrantes para o café: de 1880 até 1900 chegaram 500 mil italianos. Encontraram aqui uma vida dura.

Como a escravidão só foi extinta em 1888, muitos imigrantes chegaram a trabalhar ao lado dos escravos, com quem aprenderam um pouco da cultura local. Eles conheceram também o tratamento rude que os fazendeiros, habituados a lidar com escravos, davam aos empregados. Em muitas fazendas, necessitavam de autorização do feitor até para receber em casa um amigo, conta Sônia. Os imigrantes só eram bem tratados quando chegavam à Hospedaria de Imigrantes do Brás. Nas fazendas eles viviam isolados, labutando de sol a sol, sem quaisquer direitos. Mal alimentados, vivendo em condições precárias, atacados por doenças tropicais, muitos fugiam e iam para a capital tentar recomeçar a vida, morando nos cortiços da rua do Carmo.

Com os lucros do café, São Paulo se tornou a mais importante cidade da República e uma das forças que em 1889 derrubaram a monarquia. Como mostra a autora, nossa história não seria a mesma sem a mão-de- obra imigrante e, sobretudo, sem os “maledetos” italianos.


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