O estudante universitário Luiz Coimbra, 24 anos, apareceu na foto de um radar por avançar o sinal vermelho em um cruzamento do centro do Rio. A lente fria da câmera, no entanto, não tinha como avaliar um detalhe importante: apesar de o sinal estar fechado para os motoristas, o flagrante mostrava um policial que mandava os carros seguirem em frente. Injustiças como essa estão transformando o radar no pesadelo dos motoristas, para quem o aparelhinho virou verdadeiro símbolo de terror por flagrar excesso de velocidade ou avanço do sinal luminoso. É cada vez maior o número de pessoas que acusam o sistema eletrônico de “inventar” infrações que nunca aconteceram. No contra-ataque, fazem tudo o que podem para que não sejam acrescentados pontos negativos à carteira de habilitação. “Recebemos cerca de 1,5 mil recursos por mês, discordando da aplicação de multas dos radares”, afirma Hélio Farias, chefe de gabinete da Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro (CET- Rio). A guerra parece estar apenas começando.

O caminhoneiro José Manoel Moreira Dias, 55 anos, foi multado por excesso de velocidade, na rodovia BR-040, à altura de Petrópolis – o policial rodoviário usava radar de mão. “Na multa, estava escrito que meu caminhão tinha chegado a 101 km/h, num trecho com limite de 80 km/h”, conta Dias. Ele resolveu verificar o tacógrafo, aparelho que registra a velocidade do veículo. “Minha velocidade não passou de 83 km/h.” Dias estaria, então, dentro do limite de tolerância estabelecido por lei e espera usar essa prova para anular a multa. A Polícia Rodoviária Federal, no entanto, informa que os radares móveis fabricados no Canadá são inspecionados anualmente pelo Inmetro – até o final de agosto, 197.415 veículos tinham sido flagrados pelo equipamento em todo o Brasil por excesso de velocidade.

Em todo o Brasil, advogados e empresas que prestam serviços aos motoristas vêm tendo grande procura para suspender multas. Do outro lado, José Simões, do Detran de Brasília, lembra que em 1996 nada menos que 30% dos veículos que passaram pelos radares foram multados. “Hoje, esse número caiu para 0,3% de veículos mensalmente. Em termos de segurança e redução do risco de acidentes, o sistema é um sucesso”, afirma.

Alguns motoristas usam aparelhos importados para localizar radares, o que é proibido por lei. Menor que um maço de cigarros, o detector é instalado no vidro ou no painel do carro e começa a apitar cerca de 1,5 quilômetro antes de chegar ao radar. “Quando isso acontece, eu escondo o aparelho”, conta um motorista carioca, que não quis se identificar. Fabricado nas Filipinas e comercializado nos Estados Unidos, o detector custa cerca de R$ 180.