Vai ser uma tremenda encrenca – dez mil quilômetros pelas areias do Saara. O piloto brasileiro Klever Kolberg está entre os favoritos para vencer o Rally Paris-Dakar em janeiro próximo, a mais difícil competição fora de estrada do automobilismo mundial, cuja rota dessa vez irá da capital do Senegal à cidade do Cairo. Uma corrida pelo Saara é um dos poucos desafios que restam aos aventureiros modernos. Um homem aí abandonado morreria em 48 horas. O ar quente e seco extrai a umidade do organismo humano como um mata-borrão. E a areia retém tão mal o calor que à noite o deserto esfria terrivelmente.

Aos 37 anos, Klever ainda se empolga como um menino quando fala sobre o rali. Ele já venceu a prova competindo de motocicleta em 1993, mas desde 1997, quando passou para a tração nas quatro rodas, seu objetivo é vencer o Dakar dirigindo seu Mitsubishi Pajero. “O carro é quase original, mas com reforços no chassi e na carroceria, placas de desatolamento e tanque especial de combustível”, explica. Junto com seu navegador, o francês Pascal Larroque, Kolberg foi vice-campeão do Dakar 99. E está otimista: “Em que mais se pode pensar depois de um segundo lugar?”

A largada em Paris é apenas promocional; depois todos os competidores embarcam em um navio rumo a Dakar, onde em 6 de janeiro será dada a largada oficial: 450 veículos, entre motocicletas, automóveis e caminhões, vão comer poeira no Saara, passando por Mali, Burkina Fasso, Niger, Líbia e Egito. A chegada ao Cairo está prevista para o dia 23 e o caminho a seguir só se sabe momentos antes de cada largada.

Klever corre na categoria maratona, o que significa tentar cumprir o percurso no menor tempo possível. O Pajero pode passar dos 200 km por hora, mas isso é raro. “A areia segura muito o carro. Só em certos trechos dá para chegar a 180”, explica. “Você dirige o dia inteiro, dorme umas quatro horas, se tiver sorte, e, no dia seguinte, recomeça.” Com a poeira, o navegador nem sequer vê a paisagem. Vigia um odômetro de alta precisão, marca a distância e confere os dados com os da planilha do trajeto, para informar ao piloto onde está o caminho – pois no deserto não existem estradas. É como um vôo por instrumentos, onde o navegador faz o papel de radar.


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