Na atual temporada de caça aos narcotraficantes, inspirada pela CPI, um peixe grande foi apanhado no Ceará. O colombiano Joaquim Hernando Castilla Jimenez, 35 anos, preso desde 6 de outubro, admitiu que há seis anos lava dinheiro no Brasil para traficantes de Cáli. Jimenez dá detalhes de sua atuação, nomeia os bancos com os quais trabalhou e diz que o Banco Central poderia, se quisesse, identificar essas operações.

ISTOÉ Você faz parte do cartel de Cáli?
Joaquim Hernando Castilla Jimenez – Esse conceito de cartel de Cáli não existe mais. Isso houve numa época de muita violência. O fato de eu ser de Cáli não quer dizer que seja do cartel. Agora, a maneira como eles ganhavam o dinheiro… isso não era da minha incumbência. Minha tarefa era fazer aplicações.
ISTOÉ Mas você sabia que o dinheiro vinha do narcotráfico.
Jimenez – Nós nunca perguntamos de onde vem o dinheiro. Eu procurava aplicá-lo da melhor forma possível.
ISTOÉ De que maneira fazia isso?
Jimenez – Inicialmente usamos a cidade de Letícia (Colômbia) como ponte. Vinha em espécie, passava na fronteira como se fosse carregamento de peixes e depois ia de balsa até Manaus, onde distribuíamos para aplicá-lo no Brasil. Até que encontramos métodos melhores.
ISTOÉ Que meios foram esses?
Jimenez – Métodos legais, por intermédio de bancos. O dinheiro é remetido de uma conta nos EUA, limpa e legal. Utilizamos também Ilhas Cayman, Bahamas. Através de operadores de nossa confiança dentro desses bancos, diminuímos o rastreamento do dinheiro pelo Federal Bank dos EUA. Usando essas pessoas, autorizávamos a emissão de ordem de pagamento para bancos dentro do Brasil. Quando o dinheiro chegava aqui, antes de concluir o fechamento do câmbio, estornávamos o dinheiro. A operação aparecia registrada legalmente. Se o banco me perguntasse sobre a justificativa do dinheiro, dizia que tinha uma ordem de pagamento. E acabou. Tínhamos operadores no Banco Real, HSBC-Bamerindus, Unibanco, Bradesco e Bozano, Simonsen. Do Exterior, só quero citar o Delta Bank.
ISTOÉ A partir daí, você fazia o quê?
Jimenez – Eu fazia a operação. Depois, advogados se encarregavam de adquirir imóveis. A operação era feita para mim, por mim e meus operadores, que tinha dentro dos bancos.
ISTOÉ O Banco Central tem como checar as suas informações?
Jimenez – Se quisesse realmente faria isso. Basta verificar as ordens de pagamento.
ISTOÉ É verdade que você movimentou US$ 720 milhões?
Jimenez – Não posso te dar uma cifra real. Entenda: de 1985 a 1997, nada menos que 85% da cocaína que entrava nos EUA e na Europa vinha dos cartéis colombianos. Posso dizer que na última operação movimentei US$ 5 milhões.
ISTOÉ Políticos ou empresários lhe dão proteção?
Jimenez – Não. Minha proteção se chama dinheiro.
ISTOÉ O trabalho da CPI pode diminuir o problema do narcotráfico?
Jimenez – Acho que a CPI faz um trabalho para aparecer. O melhor seria um trabalho investigativo. Mas vi nomes na imprensa com quem não tenho nada a ver. Isso é perigoso. Os traficantes de Cáli não são como a quadrilhinha de Hildebrando Pascoal. O negócio é diferente. Corre-se o risco de envolver pessoas que não têm nada a ver e podem amanhecer mortas por aí…
ISTOÉ Tem medo de morrer depois dessas declarações?
Jimenez – Eu circulei livremente por dez anos, tenho dez nomes falsos. Eu sei como me cuidar. Eu irei embora e virão outros Joaquins Castillas. Mas vai ser difícil que esse tipo de dinheiro pare de entrar no Brasil.
ISTOÉ Por que você e seu grupo escolheram trabalhar no Brasil?
Jimenez – O Brasil é um país muito grande, privilegiado, é o país do futuro… (sorri). Decidimos operar por aqui. Mas, desafortunadamente, fomos presos.