Em dezembro de 1988, quando foi fazer o laudo sobre a morte do líder seringueiro Chico Mendes, em Xapuri (AC), precisou ser socorrido por outros legistas, que passaram 24 horas administrando-lhe soro. Impressionado com a pressão popular em torno do caso, Badan teve problemas intestinais. Em abril deste ano, convocado pela polícia a esclarecer as falhas de sua perícia sobre a morte de PC Farias e Suzana Marcolino, Badan acabou internado, oficialmente com problemas cardíacos. Na semana passada, a fragilidade física de Badan veio de novo à tona. Tinha motivos de sobra. Acusado de preparar laudos por encomenda do crime organizado, o legista virou um dos principais alvos da CPI do Narcotráfico, cujo plenário estava instalado em Campinas.

Badan passou a semana queixando-se de cólicas renais. Medicado na madrugada da quarta-feira, chegou a comparecer ao tribunal. “Ele ficou sete horas deitado em um banco de madeira, sedado, implorando para ser ouvido”, dramatizou Tereza Doro, de sua equipe de advogados. A cena, porém, teria ocorrido em um recinto de acesso restrito do fórum. Na manhã seguinte, Badan se internou em uma clínica. Desta vez, foi uma pedra de quatro milímetros no uréter direito que respaldou sua ausência em um depoimento. “Se ele ficou doente no dia em que deveria depor, a má sorte é dele”, comentou o relator da CPI, Moroni Torgan (PFL-CE). “Mais cedo ou mais tarde Badan terá de se explicar. Como o atestado médico não foi assinado por ele, não temos motivos para colocá-lo em dúvida”, ironizou o sub-relator Pompeo de Mattos (PDT-RS).

Enquanto Badan se resguardava na clínica, quatro de seus advogados entraram no Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido de habeas-corpus, tentando garantir que o perito não seja preso após o depoimento na CPI. Em poder da comissão estão dez dossiês denunciando falhas profissionais de Badan, parte deles em possível benefício do crime organizado. Da documentação constam desde irregularidades praticadas na Unicamp, onde ele ainda integra o Conselho de Ética, a laudos comprovadamente equivocados, como o de PC Farias. No âmbito acadêmico, o legista precisa explicar o desvio de equipamentos doados ao Departamento de Medicina Legal e o recebimento indevido de recursos, como se fosse para a universidade. Mas os deputados querem saber também por que Badan deixou de identificar ossadas encontradas em setembro de 1990 numa vala clandestina no Cemitério de Perus, em São Paulo, e pretende ainda confrontar uma série de laudos do legista, entre eles o que não identifica o corpo de um adolescente de São Luís (MA), supostamente morto a mando de José Gerardo de Abreu, o deputado estadual cassado por 40 votos a zero na semana passada, devido a seu envolvimento com a quadrilha investigada pela CPI.

Prisões – Na semana que passou em Campinas, o que não faltou foram provas da atuação do crime organizado na cidade. Dos depoentes, dois peixes graúdos deixaram o Tribunal do Júri direto para a cela. Apontado como braço jurídico do esquema, o advogado Artur Eugênio Mathias foi acusado de formação de quadrilha e corrupção ativa em favor do grupo supostamente comandado pelo empresário William Sozza, foragido desde 14 de outubro. O delegado Ricardo de Lima também saiu algemado, principalmente por causa de seu possível envolvimento no sumiço de 340 quilos de cocaína da delegacia que comandava. Os parlamentares estão impressionados com o grau de corrupção da polícia na região. Pelo menos outros 15 policiais deverão ter o mesmo destino de Lima. Na mira da CPI, também estão empresários suspeitos de atuarem em um megaesquema de lavagem de dinheiro. “Estamos certos de que Campinas é o coração financeiro de uma organização que tem ramificações em pelo menos 14 Estados”, garantiu o presidente da CPI, deputado Magno Malta (PTB-ES).