Quem imagina que peruca é coisa de baú cheirando à naftalina está enganado. O acessório de aparência bem mais natural volta a fazer sucesso entre as mulheres que adoram mudar de penteado como trocam de roupa. Mas é preciso ter cacife. Um modelo de grife pode custar até R$ 3 mil. Para quem adora variar o look, mas não tem problemas de identidade, é um acessório indispensável. “Tudo depende do meu estado de espírito. Um dia me sinto linda morena, no outro ruiva. Tenho até uma roxa, para ocasiões mais especiais”, conta Erica da Silva Alves, 26 anos. Confeccionadas artesanalmente, em cabelo ou fibra sintética kanekalon, as perucas são práticas e permitem um arranjo no visual rapidamente. É isso que a espanhola Margarita Bosh buscava quando comprou seus três modelos e vários apliques. “Me arrumo num minuto, sem precisar ficar horas no cabeleireiro. Quando viajo, levo meu arsenal.”

A aprovação do público masculino é outro atrativo das cabeleiras fakes. Maridos e namora-dos se entusiasmam com a fantasia de que trocam de mulher a cada dia. Erica, por exemplo, é casada há cinco anos. Há dois começou a se empolgar com as perucas. No começo, o marido estranhou um pouco, mas depois adorou. “Só tiro quando vou dormir mesmo”, diz. Com oito perucas e muitos, muitos apliques, a bailarina Juliane Tijunelis, 21 anos, usou a primeira vez como recurso por causa das apresentações. Mas o efeito nas pessoas era tão bom que ela não resistiu a utilizá-los como truques de beleza e sedução. “Prefiro cabelos loiros e compridos, mas faço a opção de acordo com a roupa que vou vestir”, afirma. Numa lógica muito própria, ela explica: uma roupa decotada na frente pede cabelos longos, se o decote é atrás, o melhor é uma de cabelos curtos. A cor da roupa também influi. Azul cai bem com uma peruca loira, e vermelho, com cabelos pretos. Erica também aponta um jeito muito particular de usar. Para ela, uma roupa country requer uma peruca lisa e longa, de cabelos pretos ou castanhos, um traje social combina com cabelos loiros e o esportivo com ruivo.

Os cabelos naturais usados para tecer uma peruca são garimpados em salões de beleza de todo o Brasil e também no Exterior. Estados do Sul do Brasil e a Argentina são grandes fornecedores. Os fios castanho natural e lisos são os mais cotados porque podem ser clareados, escurecidos ou encrespados com mais facilidade. Os cabelos são comprados por quilo e passam por um processo de seleção, esterilização e tratamento. “Os produtos são requintados e de estética apurada. As mulheres que usam peruca hoje não têm a intenção de esconder e sim mostrar um produto de boa qualidade”, explica João Costa Pereira, da Velazques/Interlace, há 34 anos nesse mercado.

Outro nome tradicional no ramo é a Clínica Capilar Sandro, fundada há 40 anos pelo italiano Sandro Salanitre. Ele, que já era peruqueiro quando chegou ao Brasil, ainda faz muita barba, cabelo e bigode para o meio artístico. Tanto Sandro quanto Pereira lembram com saudade dos tempos áureos da peruca, entre 1969 e 1973, quando uma mulher elegante tinha pelo menos três modelos na penteadeira. “No início, também era um acessório da elite, depois com o kanekalon houve a massificação e chegamos a vender três mil perucas por dia”, relembra Pereira, cuja empresa teve na época 55 pontos de distribuição de perucas no Brasil. Hoje o produto volta a ser mais elitista. Mesmo assim, a clínica de estética D’Carmo Center Beauty, por exemplo, chega a vender 300 peças por mês. “Vendo para todo o Estado”, diz Julinho, o proprie-tário. Para o cabeleireiro, um gosto não tem preço. Principalmente se for para se sentir mais belo. “As mulheres vêm aqui e mostram uma foto ou descrevem: quero um cabelo assim e assado. Faço o cabelo e dou para elas levarem para casa e usar quando quiserem.” Não é maravilhoso?