Conhecido por exportar humoristas, o Ceará agora está exportando jipes – e isto não é piada. O Troller é um jipe com tração nas quatro rodas tão confiável que vai competir no rali Paris-Dakar-Cairo 2000, uma prova de dez mil quilômetros pelo deserto do Saara, onde a resistência dos veículos, do motor e dos pilotos é determinante. Esta será a primeira vez que um carro brasileiro participará da competição. “Estamos indo para ganhar experiência, para chegar no Cairo sem nos importarmos com a classificação”, diz o piloto Roberto Macedo, empresário de 34 anos que representa a marca em São Paulo. “Quem sabe depois poderemos pensar em vitória”, torce.

Embora não tenha pretensões de chegar em primeiro lugar, a equipe brasileira espera fazer bonito na categoria dos protótipos (modelos com até mil unidades fabricadas anual-mente). O Troller tem carroceria de fibra de vidro, mecânica simples, usa o mesmo motor de dois litros do Santana, atinge velocidade máxima de 140 quilômetros por hora, possui ótima estabilidade e, apesar de espartano, tem confortos como direção hidráulica e ar-condicionado, algo que não pode faltar no calor do deserto.

A equipe brasileira conta, entre seus integrantes, com o navegador solitário Amyr Klink, que dessa vez vai dar uma de navegador terrestre. E está muito confiante no jipinho. Para que os pilotos se habituassem com o terreno arenoso que irão enfrentar, no mês passado foram realizados alguns treinos nos Lençóis Maranhenses, região litorânea conhecida como o “Saara brasileiro”. “As dunas do Maranhão simulam muito bem uma parte das dificuldades que iremos enfrentar no deserto”, explica Macedo.

Os treinos também serviram para testes de suspensão e de um novo sistema para calibragem dos pneus “on the road”. Cada tipo de terreno exige uma calibragem. Na areia, por exemplo, é preciso andar com os pneus meio murchos para não atolar. Antes, os pilotos usavam o ar excedente dos estepes para inflar os pneus rodantes. Era uma mão-de-obra. Agora, graças a um compressor a bordo, isso é feito durante a corrida. Não se perde mais tempo – e o tempo é essencial numa maratona, onde vence quem chegar primeiro.