“Leia O anjo e o resto de nós”, recomendou a escritora gaúcha Martha Medeiros num e-mail que enviou de Porto Alegre ao publicitário Marcelo Pires, 37 anos, seu amigo, que mora em São Paulo. Marcelo leu e gostou – do livro e da foto da autora impressa na orelha. Enviou seus elogios em outro e-mail à editora, que repassou a mensagem à autora, Letícia Wierzc-howski, 27 anos. Em setembro passado, um ano depois da primeira mensagem, eles casaram. Como lembrança para os convidados, Marcelo fez um livrinho com os melhores momentos da correspondência. O editor Ivan Pinheiro Machado, da LP&M, que foi à festa, encarregou-se de transformar o brinde no livro eu@teamo.com.br., que acaba de chegar às livrarias.

O romance por e-mail de Marcelo e Letícia tem requintes especiais, mas não é um caso isolado. Apaixonar-se primeiro pelo texto e só depois pela imagem é uma situação que pertencia à era das cartas, mas foi ressuscitada pelos correios eletrônicos. “Quem se conhece por escrito, apaixona-se pela alma”, explica Marcelo. Diferente do chat, que permite o anonimato, o e-mail recupera as boas maneiras, avariadas pela velocidade da comunicação. “Escrever é uma atividade civilizadora, pois te obriga ao apuro”, diz Letícia. Ao perceber que estava se apaixonando, ela, especialista em inventar personagens, hesitou, incrédula. “Eu pensei: ‘Letícia, isso só acontece na ficção.’”

Acontece também na ficção; uma paixão nascida entre troca de e-mails virou o filme Mensagem para você, com Tom Hanks e Meg Ryan. Como a arte imita a vida, Letícia logo pôde verificar que sua paquera online virou uma paixão de verdade. A história do bancário gaúcho Luciano Filippetto, 24 anos, e da advogada paulistana Maria Elizabeth Carvalho, 33 anos, também cheira a conto de fadas do século XXI. Casados desde abril, eles se paqueraram via Internet depois de se conhecerem em uma sala de chat. “Depois de um tempo, não me importava se era baixa, loira, alta ou morena”, afirma Luciano, que manteve contato diário com Elizabeth por e-mail de agosto a outubro, quando se encontraram pessoalmente. Ela, que morava em Sorocaba, interior de São Paulo, e estava noiva ao se corresponder com o gaúcho, diz que se surpreendeu com a eficácia das conversas eletrônicas: “No começo era muita besteira que a gente escrevia, mas logo ficou uma coisa séria, horas e horas de altos papos”, lembra ela. “Não esperava que pelo e-mail fosse possível conhecer alguém a fundo. Mas no papel as coisas ficam claras.”

O designer Gil Fuser concorda. Para ele, que passa o dia no computador, conhecer uma pessoa pelo que ela escreve é totalmente diferente: “São apenas idéias e sentimentos”, diz Gil, 26 anos, que em julho começou uma relação eletrônica que hoje é namoro. Ele, de São Paulo, ela, de Florianópolis. Há quatro meses, dentro da seção “amigos virtuais” do universo on line, eles se conheceram. “Nunca fui de mandar muitas cartas, pois acho um saco ir até o correio”, diz Gil. “O que eu curti na nossa correspondência foi que não entramos naquelas de ‘o que você faz, do que você gosta’, essas coisas. Ela mandava umas coisas bem poéticas e eu respondia. Até que um dia, quando já estava bem interessado, mandei um ultimato: Você quer mesmo que eu vá te conhecer?”

Esse é um momento crucial da paquera online. “Dá um medo de se decepcionar”, diz o jornalista Roberto Jardim, 29 anos, noivo de Aline Schostkij, 26 anos. Ambos de Porto Alegre, eles se conheceram na Internet e, depois de um mês de contato, se encontraram. Deu certo, mas podia não dar. “Acho que a escolha de dizer a verdade sobre si próprio, mesmo que protegido pelo computador, é o que viabiliza uma relação depois”, acredita. Quem inventa muito tem grandes chances de não ir além da caixa postal. Gil ficou mais de um mês sem resposta. No dia em que, desiludido, jogava fora toda sua correspondência com a amiga catarinense, recebeu um e-mail definitivo. “Foi um e-mail de pura poesia. Fui para lá sem saber como ela era. Quando a vi, me apaixonei”, diz ele, que voltou à Florianópolis uma outra vez e recebeu a visita de sua namorada em São Paulo. Pois é, tem coisas que só se faz pessoalmente…