Por muito tempo os brasileiros se viram às voltas com o martírio para conseguir uma simples linha telefônica. Com a privatização das telecomunicações, essa dificuldade básica começou finalmente a ser superada. Ocorre que hoje, com o uso crescente da Internet (os internautas brasileiros já formam uma comunidade com 3,2 milhões de usuários), uma linha só não basta. A dificuldade agora é conciliar o uso telefônico de voz com o de dados. Além disso, busca-se mais velocidade de acesso, já que as linhas de cobre são muito lentas. Momento mais que propício para a introdução de duas tecnologias conhecidas no Exterior pelas siglas em inglês ISDN (ou RDSI, de Rede Digital de Serviços Integrados) e ADSL (de Linha Digital Assimétrica de Usuário). O que elas fazem é simples, mas parece mágica: transformam uma linha comum em duas, que podem ser usadas simultaneamente. Como? Pura matemática. Como a voz que trafega pelos fios de cobre é formada por dígitos (números que codificam o som), essa tecnologia organiza esses dados como se estivesse transformando uma estrada de duas mãos em uma de quatro. As operadoras de telefonia de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas e Santa Catarina já estão oferecendo essa novidade a preços bem convidativos.

“O fato é que as operadoras não têm mais como ampliar rapidamente a oferta de linhas sem adotar o ISDN”, alega Márcio Lebrão, diretor da subsidiária brasileira da empresa canadense Eicon, que produz equipamentos para essas tecnologias. Foi esse o pensamento que norteou a decisão da operadora Telemar, que opera a telefonia fixa dos cariocas. Uma campanha publicitária pretende incentivar cinco mil assinantes dos bairros de classe média do Rio, que têm uma ou mais linhas, a trocá-las por uma ISDN. Assim, a operadora passa a dispor dessas linhas normais para atender a demanda de outros bairros mais carentes. Em São Paulo, a Telefônica também já opera essa tecnologia, só que de uma forma mais tímida. “Queremos inicialmente atender pequenas empresas, lojistas e alguns assinantes residenciais, mais com o intuito de testar a eficácia dessa tecnologia”, afirma Horácio Perez, diretor de sistemas da operadora. “Se o mercado corresponder à expectativa, ampliaremos a oferta.” No Rio, a mensalidade de uma linha ISDN custa R$ 28. Em São Paulo, está por R$ 70. Para quem usa muito a Internet, é uma opção econômica.

A Telefônica também lançou há 20 dias o serviço Speedy, que usa a tecnologia ADSL para multiplicar em mais de dez vezes a velocidade de conexão com a Internet. Em parceria com os dois maiores provedores de acesso brasileiros, o ZAZ e o UOL, o novo serviço também otimiza a malha telefônica já existente. Para se ter uma idéia do que se ganha, os técnicos da fabricante de equipamentos de telecomunicação Alcatel lembram que para copiar um arquivo de 10 Mbytes através de um modem comum com velocidade de até 28,8 kbps (quilobits por segundo) e linha telefônica normal leva-se cerca de 50 minutos. Com a velocidade ampliada para 500 kbps, o mesmo arquivo chegaria ao computador em apenas três minutos. A Telefônica oferece hoje a conexão doméstica de 256 kbps. A partir de 2000, estarão disponíveis as velocidades de 512 kbps e 2 Mbps (megabits por segundo). O usuário vai precisar de uma placa de rede chamada Ethernet e um modem ADSL, que serão alugados pela operadora por R$ 14,80 por mês. Pagará também uma mensalidade de uso do serviço de R$ 50, sem limite de horas que pode ficar conectado à Internet. “A conexão é imediata, como se fosse uma linha dedicada”, explica Lebrão. “Se alguém ligar para o seu telefone enquanto você estiver navegando na Web, vai tocar e funcionar como se a linha estivesse desocupada”.