O prestígio do Brasil como Estado neutro, empenhado pela paz mundial e apto para realizar o sonho de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, ganhará um reforço em janeiro. A inauguração de um pequeno laboratório da Petrobras no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro vai incluir o Brasil no seleto grupo de países credenciados pela ONU a identificar componentes de armas químicas. O laboratório foi montado com um repasse de US$ 1 milhão da Organização para Proibição de Armas Químicas (OPCW), organismo da ONU com sede na Holanda. É a nova vedete dos 250 laboratórios do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Cenpes), que agrupa a chamada “elite pensante” da Petrobras.

Apenas seis países têm laboratórios semelhantes credenciados pela ONU: Holanda, Alemanha, Finlândia, EUA, Suécia e China. O Cenpes venceu uma concorrência nacional e outra internacional e, após a inauguração, se submeterá a uma bateria de testes coordenados pelo laboratório finlandês. Se cometer mais de um erro de diagnóstico em dois anos, perderá a credencial. O repasse adiantado de US$ 1 milhão, no entanto, indica, segundo o chefe do Centro de Excelência de Geoquímica, Márcio Mello, a boa vontade da ONU para credenciar o Brasil e a confiança na capacidade do Cenpes. A falta de laboratórios em países periféricos e não-alinhados é um dos obstáculos ao pacto mundial pela proibição de armas químicas, pois muitos deles alegam que não podem ficar reféns de laboratórios concentrados nos países ricos. O pacto prevê sanções armadas da ONU a países que usarem armas químicas, cuja comprovação só é feita por laboratórios credenciados.

O novo laboratório faz parte do Centro de Excelência em Geoquímica, uma das sete pontas de um prédio em formato de estrela construído em 1966 na Ilha do Fundão. Com 45 mil metros quadrados, o Cenpes abriga uma espécie de mini-Petrobras. É dali que sai a tecnologia de ponta da estatal, da prospecção do petróleo ao refino dos combustíveis. O destaque são os recordes mundiais na perfuração em alto-mar. Dos 1.250 funcionários do Cenpes, metade está em funções de nível superior, 200 são mestres e 60, doutores.

O Cenpes está tão acostumado a competir em alto nível que o chefe do Centro de Excelência de Geoquímica, onde fica o novo laboratório, Márcio Mello, reage quando elogiam a façanha do Cenpes como exceção no Terceiro Mundo. “Um país que tem um laboratório como esse não pode ser chamado de subdesenvolvido”, irrita-se o PhD em geoquímica molecular. Entre os seis pesquisadores do laboratório, ninguém, segundo Mello, cogita a hipótese de o Cenpes não passar nos testes da ONU.

A Petrobras investe cerca de 1% de seu faturamento bruto anual (em 1998 foram US$ 25 bilhões) em pesquisa e 88% desses recursos vão para o Cenpes. A mais glamourosa de suas recentes conquistas pintou o verde-amarelo nos carros da Fórmula 1, ao desbancar a francesa Elf como fornecedora de combustível para a Williams. A substituição ocorreu em 1998 e foi mantida em 1999. Agora, o Laboratório de Motores do Cenpes se dedica a adequar a gasolina para os motores BMW que a Williams levará às pistas em 2000, no lugar dos motores Renault. Se o Cenpes vai conseguir? “Não há motivo para dúvida”, diz o superintendente do Cenpes, Irani Varella.