Quinze anos depois de a campanha Diretas-Já ter tomado conta do País, o tema acaba de voltar à tona. Só que desta vez em outro nível – as estruturas internas dos partidos de esquerda. O PT já se definiu. O próximo presidente da legenda será escolhido pelo voto direto de todos os seus filiados, que hoje somam cerca de 600 mil pessoas. Os diretórios nacional, estaduais e municipais também serão compostos da mesma fórmula. Recém-reeleito para a presidência, com os votos de 496 dos 914 delegados, o deputado José Dirceu (SP) encerra a fase de mandatos de dois anos com base na escolha indireta. Dependendo dos humores de Lula, que agora ocupa o cargo de presidente de honra do PT, o candidato do partido nas eleições presiden–ciais de 2002 também poderá ser definido pelo voto direto.

Lula avisou à cúpula petista que ainda no primeiro semestre do ano que vem define se lançará sua quarta candidatura ao Palácio do Planalto. Caso não assuma a empreitada, outras lideranças disputarão a prévia. Aparentemente, não se trata de um privilégio do fundador e principal líder do PT. É que, se Lula sair candidato à Presidência da República, ninguém se dispõe a disputar a primazia com ele. Caso contrário, pelo menos três políticos estão dispostos a brigar no voto pela indicação: o senador Eduardo Suplicy (PT), Cristovam Buarque, ex-governador do Distrito Federal, e Tarso Genro, ex-prefeito de Porto Alegre.

“O PT vai passar por mudanças profundas, que incluem a eleição direta para seus dirigentes e a descentralização da estrutura partidária. A partir de janeiro, nossas prioridades são as mudanças no partido e a mobilização para as eleições do ano 2000”, afirma José Dirceu. Será preciso, de fato, muita mobilização. Entre as metas petistas para as próximas eleições está dobrar o número de prefeitos, que atualmente são 115. A permanente atividade dos filiados é uma das preocupações do deputado Milton Temer (RJ), porta-voz da chamada ala radical do partido. Sem questionar a opção pelas eleições diretas, que ainda precisam ser regulamentadas no Diretório Nacional, Temer ressalva que a novidade não deve ser o único atrativo para mobilizar os filiados afastados na lida partidária. “A eleição direta é um dado para a convocação da militância, mas precisamos de outros contrapesos que valorizem a atuação permanente”, diz Temer. “O único problema da eleição direta é dificultar a renovação, pois um militante sem projeção terá menos chances de ganhar a disputa do que um parlamentar conhecido, mesmo que o militante seja mais brilhante, mais preparado e mais compromissado com o partido do que o parlamentar.”

Sintonizado com as mudanças em curso no PT, Ciro Gomes, o candidato do PPS à Presidência da República, defendeu em debate realizado na última semana, em Maceió, a eleição direta para a escolha do candidato dos partidos de esquerda na eleição de 2002. Tarso Genro, que também participou do encontro, descartou de imediato a sugestão de Ciro. “O Lula é nosso candidato por unanimidade. Se ele não quiser concorrer à Presidência, o partido terá seu próprio nome”, disse Tarso. “Entendo a proposta do Ciro como uma demonstração de sua inteligência, mas ela não faz sentido. É um recurso retórico de quem não tem partido.”