A CPI do Narcotráfico parece estar revertendo o “muito barulho por nada” que vinha carregando no pescoço durante suas andanças pelo País. Nos dois dias que passaram em Alagoas, os deputados da CPI conseguiram fazer um estrago considerável na precária reputação do irmão de PC, o deputado Augusto Farias. Já indiciado como mentor intelectual da morte do irmão, Augusto agora apresenta, na melhor das hipóteses para ele, evidências de falta de decoro parlamentar. Para o deputado Robson Tuma, membro da CPI, “os caminhos da sua cassação já estão asfaltados”. Os detalhes de sua debacle estão na reportagem que começa à pág. 24 e é assinada pelos editores Mário Simas Filho e Mino Pedrosa, pioneiros da persistência no caso PC e também especialistas em Augusto Farias.

No Espírito Santo, a CPI precisou de três dias para encurralar o presidente da Assembléia Legislativa, deputado José Carlos Gratz, e colecionar provas de uma larga operação entre bicheiros e a Scuderie Le Cocq (uma sucedânea do esquadrão da morte) e uma rede de notáveis envolvendo políticos, juízes, advogados, empresários e policiais. Para o relator da CPI, deputado Moroni Torgan, “a espantosa atuação do crime organizado no Espírito Santo só é comparável à que a CPI apurou no Acre”.

Frase parecida foi ouvida à exaustão na sucursal de ISTOÉ em Brasília, há dois meses. O editor Andrei Meireles dizia, ao voltar de Vitória, que “a situação lá é muito pior que a do Acre”. Com o faro de reportagem apurado em 28 anos de carreira, Andrei sustentava que o crime organizado no Espírito Santo estava fora de controle e avançava sobre o Estado. Nascido em Goiânia, vascaíno roxo, fumante de 50 cigarros por dia e ex-militante do Partido Comunista, aos 47 anos ele é hoje um dos mais experientes jornalistas políticos de Brasília. Há quatro anos Andrei é editor na sucursal de ISTOÉ em Brasília. Nas últimas semanas, seu trabalho incansável revelou as ligações do ministro da Defesa, Élcio Álvares, com o presidente da Assembléia Legislativa no Estado, o deputado Gratz. Também já provou seu envolvimento com a quadrilha que atua na região. Durante o depoimento à CPI, Gratz disse que as coisas iam muito bem até que chegou a Vitória o repórter de ISTOÉ e provocou a confusão. Numa entrevista à revista Opinião de Cachoeiro do Itapemirim, que foi distribuída no Palácio Anchie-ta, ele afirmou: “O jornalista de ISTOÉ tentou me corromper e falei que a coisa que mais gosto, depois de minha família, é dinheiro. Mas nem todo dinheiro do mundo faria com que eu entregasse algo para prejudicar o governador José Ignácio.” O deputado Ricardo Noronha (PMDB-DF) pediu para ele explicar essa declaração. Gratz se retratou afirmando que em nenhum momento falou de dinheiro com o repórter. O que efetivamente quis dizer, acrescentou, foi que o jornalista insistiu muito para que ele lhe desse uma cópia de um dossiê que tinha contra José Ignácio.

Ao final do seu depoimento, Gratz saiu do plenário do palácio do governo e cruzou com Andrei Meireles: “Depois eu te pego, seu danado”, comentou com um sorriso. O que o presidente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo, o deputado José Carlos Gratz, quis dizer com o “depois eu te pego” não sabemos. E a importância disto não ultrapassa o fato, grave é bom que se diga, de um político ameaçar um jornalista. Mas em uma coisa ele acertou: o editor de ISTOÉ Andrei Meireles realmente é um jornalista “danado” de bom.