Seria um ótimo exercício de imaginação se o Itaú Cultural, em São Paulo, eliminasse as tradicionais etiquetas explicativas da mostra Novos alquimistas e deixasse o visitante descobrir qual material entrou na composição das instigantes obras em exposição. Quem poderia imaginar, por exemplo, que as vistosas e macias mantas tecidas pela paulista Daniela Moreau surgiram do PET (polietileno tereftalato) de garrafas de refrigerante ou que as luminárias do também paulista Júlio Sannazzaro foram feitas a partir do vidro azul de vinhos alemães. Em nome do didatismo, a curadora Adélia Borges tirou o prazer da descoberta, mas conseguiu passar claramente o conceito da coletiva de designers brasileiros contemporâneos que a partir de materiais reciclados, pouco nobres ou de uso restrito no cotidiano criaram belos objetos utilitários. “Quando se fala em reciclagem logo se pensa numa estética pobre. Procurei fugir disto, adotando como critério a qualidade da peça”, explica Adélia. Além de tecidos e luminárias, a mostra reúne móveis, roupas, jóias, louças e cortinas que injetam humor, ousadia e criatividade no quarto segmento do projeto Arte e consumo. É assim que uma simples lata quadrada, normalmente usada como embalagem de tinta a óleo, pode se transformar num moderno gaveteiro pela sensibilidade sem preconceitos dos paulistas Sannaz-zaro, Sandro e Flávio Verdini. O francês Marcel Duchamp, que virou de ponta-cabeça um mictório e chamou de Fonte, certamente iria aprovar.