Buzz Lightyear, o astronauta digitalizado que despontou na fábula cibernética Toy story – um mundo de aventuras, de 1995, ressurge em grande estilo nas trepidantes cenas iniciais de Toy story 2 (Toy story 2, Estados Unidos, 1999), cartaz nacional em 348 salas, nas versões dubladas e legendadas a partir da sexta-feira 17. Como um bólido supersônico, o herói rompe o espaço numa velocidade estonteante e aterrissa num planeta alienígena para enfrentar o temível imperador Zurg, divertida referência a Darth Vader, o arquivilão da série Star wars. Antes do duelo entre os dois ouvem-se os acordes ini-ciais de Assim falou Zaratustra, música tema de 2001 – uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick. São citações divertidas como estas que despertam nos adultos uma enorme empatia com Toy story 2 e que não fazem do desenho inteiramente rea-lizado por computadores uma diversão chata, restrita aos pimpolhos. Tanto é que já faturou mais de US$ 100 milhões em duas semanas de exibição nos Estados Unidos.

Toy story original se celebrizou como o primeiro longa-metragem de animação da história do cinema digital. E desta vez o acabamento visual está ainda mais aprimorado. Como em 1995, repete-se a afinada parceria entre os estúdios Disney e a produtora californiana Pixar, empresa de Steve Jobs, fundador da Apple. A direção coube novamente a John Lasseter – o mesmo de Vida de inseto -, que levou um Oscar especial pelo primeiro Toy story. “As crianças preferem um humor mais físico, os adultos as ironias, então ambos se divertem”, disse Lasseter a ISTOÉ, semana passada, durante sua visita a São Paulo.

Ele tem razão. O que assombra neste novo desenho de trama aventuresca é a definição perfeita dos detalhes e o exacerbado realismo das texturas de roupas, objetos e peles humanas. Afinal, ainda que os brinquedos sejam protagonistas como o caubói Woody, há personagens humanos da estirpe do vilão Al McWhiggin – dono de uma loja de brinquedos que descobre que Woody é uma peça dos anos 50 e tenta vendê-lo para um museu no Japão. Para tornar sua aparência mais próxima do natural, Mitch Prater, diretor técnico encarregado de desenvolver os softwares das texturas, teve atitudes curiosas. Enfiou o próprio rosto num scanner com a intenção de conseguir um objeto de estudo convincente. Coloração da pele, pêlos, barbas e sombreamento só foram possíveis por se tratar de uma animação digital. “Imagine como seria difícil fazer um desenho tão rico em detalhes, com tantos efeitos e reproduzi-lo a lápis até o final?”, pergunta Lasseter. Em relação ao Toy story original há ainda mais nitidez nas expressões, mais articulações e vertiginosos movimentos de câmera nos muitos momentos de ação. De acordo com o diretor, porém, computadores devem ser vistos apenas como suporte. “Imagens bonitas só conseguem entreter por dois minutos. Se as pessoas perceberem apenas a tecnologia, falhamos”, determina ele. “O que interessa é a história e não quantos megabytes usamos para fazer Woody.”

Tom Hanks – Neste aspecto, o esforço foi certeiro. Lasseter e sua equipe exploraram os valores de honra e honestidade embutidos na amizade de Woody – valorizado pela ótima dublagem de Tom Hanks – e Buzz Lightyear, dublado pelo comediante Tim Allen. Além da dupla, reaparecem todos os brinquedos do primeiro desenho, entre eles o Sr. Cabeça de Batata, Slinky, o cãozinho de molas, e o Porquinho. Dos novos personagens, os destaques são Jessie e Mineiro, brinquedos que, como Woody, são relíquias dos anos 50, ex-integrantes de um show televisivo tipo Roy Rogers. No enredo, agora é Lightyear que junta uma trupe quase brancaleônica para resgatar o caubói. Espetacular pela exuberância e pela trama movimentada, “Toy story 2 foi feito para ser visto até ‘cem vezes’”, acentua o diretor. Pai de cinco filhos que vão dos dois aos 18 anos e fanático colecionador de brinquedos, John Lasseter sabe o que fala.


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