A jornalista Gaby Hauptmann, 42 anos, esteve na semana passada no Rio de Janeiro para tratar de um tema que deixa os alemães em polvorosa há quatro anos. Autora do romance Mulher solteira procura homem impotente para relacionamento sério, ela conseguiu fazer seus sisudos compatriotas discutirem a disfunção sexual dentro de uma perspectiva nova, muito antes da onda Viagra. Lançado em 1995, o livro, que está chegando ao Brasil pela Editora Rocco, já vendeu dois milhões de exemplares. Numa jogada de marketing, a editora brasileira publicou um anúncio usando o título do livro como se fosse um classificado e forneceu seu próprio endereço. A Rocco recebeu dezenas de cartas de leitores que responderam relatando os seus problemas.

Gaby garante que não há nenhum traço autobiográfico na história. Ela nunca se relacionou com nenhum homem impotente e não prega a abstinência sexual. Seu objetivo é fazer homens e mulheres reverem o papel do sexo em suas relações. O enredo inusitado trata de um personagem, Carmen Legg, jovem, bonita e bem-sucedida, que cansa de se sentir objeto sexual. Em busca de envolvimento afetivo, põe um anúncio no jornal à procura de um homem que pode querer tudo dela… menos sexo. Quando conhece David, um dos candidatos que responderam ao anúncio, enlouquece por não poder fazer sexo com ele. “Eu queria que mulheres e homens refletissem sobre o absurdo do amor para toda a vida”, explica Gaby.

ISTOÉ Você acha possível um relacionamento dar certo sem sexo?
Gaby Hauptmann – Acho que sexo é um fator muito importante numa relação. Naturalmente, o homem quer algumas coisas, a mulher outras. O desafio é encontrar um ponto de equilíbrio.

ISTOÉVocê recebeu cartas de homens impotentes?
Gaby – Recebi muitas cartas de homens impotentes que me agradeciam por ter elevado o valor deles. O livro fez tanto sucesso na Alemanha que uma pessoa chegou a publicar um anúncio num dos maiores jornais do país dizendo: David procura Carmen (os personagens do livro), com um número de telefone.

ISTOÉEntão você criou um novo padrão de rela-cionamento?
Gaby – Eu acho que consegui pelo menos que as mulheres e os homens repensassem os padrões de relacionamento, que acho que passam muito pelo sexo. Às vezes as coisas podem estar horríveis, mas, se passam uma ótima noite juntos, finge-se que tudo ficou bem.

ISTOÉO homem impotente, por não poder resolver tudo na cama, tem de optar só pelo diálogo?
Gaby – Eles podem recorrer a muitas outras formas de carinho. Existem mulheres que já se satisfazem com as preliminares.

ISTOÉ Como não cair nas ‘armadilhas’ que minam os relacionamentos?
Gaby – A realidade mostra que é muito difícil. Na Alemanha, um em cada três termina em separação e em 60% dos casamentos ocorrem traições. Isso porque é impossível encontrar o parceiro que vá gostar de tudo que você goste. Chega um ponto em que você deve ter uma companhia para cada atividade.

ISTOÉ O ideal é a poligamia?
Gaby – Não estou radicalizando. Mas se você for independente, sim. É mais fácil e prático, cada um se relacionar com quem quiser, o que não significa que você precise também ter sexo com todo mundo. Devemos refletir se o modelo de casamento tradicional ainda é válido hoje. Me parece bastante absurdo esse modelo romântico, para toda a vida.