Vivandeiras do mercado financeiro choram o lucro magro por conta do juro baixo. Nas últimas semanas fizeram uma pressão sem igual para que a autoridade monetária revise para cima a taxa, adotando novo patamar, mais “confortável” e rentável. Para elas. O argumento por trás do pedido não é uma lorota: o aumento consistente da inflação no teto da banda fixada pelo Banco Central (perto dos 6,5%, anualizada). O vilão inflacionário está identificado: o tomate. Como nos tempos sombrios e de informações distorcidas da ditadura o chuchu levou a culpa, nada mais natural que escolher agora outra hortaliça da cesta básica para espremer. O tomate, decerto, abusou da conta. De fevereiro de 2012 a fevereiro último, seu preço quase dobrou. Mas há uma falácia no alerta dos que acreditam ser esse fenômeno um exemplo generalizado de disparada dos preços. O tomate da colheita recente foi dizimado pelas chuvas. Faltou na mesa do consumidor ou está sendo regateado a valores exorbitantes. Nas nuvens, pelo desencontro entre oferta e demanda. O problema é sazonal e o apontam como estrutural. Com a variação tomateira, os alarmistas anunciaram até uma nova onda, chamada de inflação dos alimentos, que iria afogar a reação da economia. Não passa, na verdade, de uma marola. A ciranda inflacionária vem girando num espaço pequeno e previsível. Tende – e esses mesmos senhores do capital sabem – a perder força logo. O consumidor brasileiro, por sua vez, está escolado: o tomate ficou caro, troca de legume. E assim em cadeia: com carne, roupa, etc. O que a tropa de especuladores precisa entender é que, no atual ambiente do País, não há mais lugar para a propaganda enganosa sobre os riscos de hiperinflação. Muito menos para alegar que houve imprudência ou descaso das autoridades com o assunto. A própria presidenta Dilma tratou de descartar a hipótese e mandou o seu vacilante emissário do BC, Alexandre Tombini, a público reforçar o compromisso do governo com a estabilidade. O problema é como pensa Tombini, diferente do que quer Dilma. Ele compartilha a equivocada visão de mercado de que só os juros salvam e, dessa forma, pode colocar tudo a perder na bem-sucedida trajetória de queda das taxas a níveis civilizados. Seria um retrocesso desnecessário. Afinal, quem nunca acreditou em variação de preços como uma realidade inevitável que atire o primeiro tomate.