Não precisa de curso superior, mestrado ou doutorado. Qualquer dona de casa, ao fazer compras no supermercado, sabe que o preço do tomate está exorbitante, que praticamente dobrou em relação ao ano passado e que, do jeito que está, é melhor não comprar. Escolhe-se outra hortaliça para a salada e espera-se para ver se ele estará mais barato na próxima vez. Ela compreende o mecanismo dessa carestia temporária: chove demais na lavoura, a colheita diminui e, com menos oferta, o mercado cobra mais pelo produto. Normalizada a situação no campo, tudo volta ao que era antes. É bom que essa lição básica de economia doméstica seja ouvida no Banco Central antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos próximos dias 16 e 17 de abril. Sem ela, teme-se que a equipe comandada pelo hesitante presidente do BC, Alexandre Tombini, tenha uma recaída e faça uma releitura da famosa “inflação do chuchu” dos tempos da ditadura. Lá atrás, com informações distorcidas, o governo transformou o vegetal em vilão, culpando-o pelo cenário de descontrole geral dos preços. Hoje, a autoridade monetária pode vir a criar a “inflação do tomate” e, para combatê-la, usar uma arma mais destruidora do que granizo caindo sobre a horta: a volta da alta dos juros.

chamada.jpg
TOMBINI
Pressionado pelo mercado financeiro, ele tem dado sinais de que vai ceder

Para deleite do mercado financeiro, saudoso do ganho fácil com as taxas elevadas, Tombini tem dado sinais de que vai ceder. Deixou isso claro na terça-feira passada, ao participar de uma audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. “A inflação tem mostrado uma certa resistência ao longo dos últimos meses”, afirmou durante a reunião. “Vamos acompanhar o cenário macroeconômico nesse período à frente para, então, nas nossas reuniões, decidirmos se e quando daremos um passo adicional”, declarou. Apesar da falta de precisão na declaração, outros dirigentes do BC e especialistas estimam que a taxa Selic subirá entre 0,25 e meio ponto percentual na próxima reunião do Copom. Ao ser confirmada, a mudança pode significar uma vitória dos que, ao perceberem a posição passiva de Tombini, passaram a difundir a ideia de que o País está perdendo a guerra contra a inflação e exigem a mudança nos juros como remédio vital para o problema. E uma derrota para aqueles que, como a presidenta Dilma Rousseff, enxergam uma pressão nos preços, mas a entendem como um efeito temporário e menor diante de um desafio maior: manter o Brasil no rumo do crescimento. Para isso, defendem a manutenção da política de queda nos juros e a adoção, pelas autoridades monetárias, de outras armas mais eficazes e menos danosas para solucionar a questão.

“Essa pressão inflacionária não se deve à grande demanda, mas à falta de oferta”, afirma a professora Maryse Farhi, do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica do Instituto de Economia da Unicamp. Para ela, se o BC atacar a inflação por meio do aumento de juros, estará cometendo um sério erro. O que o País necessita é de investimentos tanto do poder público como da iniciativa privada para suprir à procura. “Vivemos um grande período em que as empresas ganhavam com aplicações. Agora, elas precisam assumir riscos, investir. Essa mudança de mentalidade precisa de um tempo”, explica. Nesse sentido, o aumento de juros não só representaria um retrocesso como encareceria aqueles que querem produzir. Sem contar que o remédio pode ser mais forte que o paciente, levando o País a uma recessão. Há doses mais leves e homeopáticas, como a adoção de compulsórios.

01.jpg

Reclamação frequente dos setores produtivos brasileiros, a taxa básica de juros passa por um processo de queda desde que Dilma assumiu o poder. De janeiro de 2011 até a última redução, em outubro de 2012, caiu quatro pontos percentuais. Foi de 11,25% a 7,25% ao ano. Isso diminuiu o custeio do País com sua dívida, ampliando a capacidade de investimento. Como serve de parâmetro para outras modalidades de empréstimo, barateou o crédito dos setores produtivos alavancando investimento. Teve, além disso, outro papel fundamental: ajudou o Governo Federal a pressionar, via bancos estatais, outras instituições financeiras a diminuirem as taxas cobradas em operações de crédito. Fenômeno que, somado aos ganhos médios de renda, ajudou a população a comprar mais e movimentar a economia.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Foto: Adriano Machado/Ag. Istoé


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias