Mesmo após tentar meditar no escuro, aquele pensamento que o perseguia há meses não saía de sua cabeça. "Não tem jeito. Vamos lá.", pensou enquanto levantava e caminhava em direção à mesa na sala ao lado.
Ligou o computador, e enquanto ele iniciava, foi até a cozinha e encheu um bule de água para fazer café.
Quando voltou ao computador, clicou no botão do editor de texto e, quase que instantâneamente, ela apareceu. Sim, a tela branca estava lá, para lembrá-lo que em três meses não havia conseguido digitar uma palavra sequer sobre seu novo livro.
Às cinco da manhã, vendo o nascer do dia e sem nenhuma inspiração, Pedro voltou para cama e tentou dormir. Em vão.
Parecia que aqueles dias e noites sem fim nunca iam acabar.
Passado mais um mês, sem que conseguisse progredir no seu texto e até com vontade de largar a escrita, ele decidiu dar um tempo. Ia parar de escrever! "De que vale um escritor que não escreve?" pensou com seus botões enquanto se vestia.
Como fazia tempo que não saía de casa, decidiu ir ao bar da esquina, aonde certamente ia encontrar gente amiga. Era exatamente o que precisava para levantar sua moral.
Chegando ao bar, encontrou uma mesa cheia de amigos, que estavam festejando. Aliás, todos, menos Márcio. E foi logo com ele que engatou a conversa:
– E aí amigo, que cara é essa? Morreu alguém?
– Não, mas quase. Enquanto todos comemoram, seu amigo aqui está vivendo um dos momentos mais difíceis da vida dele!
– Como assim? O que aconteceu?
– Lembra que eu fiz faculdade de direito e contabilidade ao mesmo tempo? Pois é, estou me formando hoje nas duas.
– E qual o problema com isso?
– O problema é que vou ter que escolher entre uma delas. E pra piorar, recebi propostas de trabalho de cada uma das melhores firmas dessas áreas!
– Ainda não consigo ver como isso é um problema!
– Amigo, imagine se eu escolher a carreira errada e descobrir, daqui há vários anos, que deveria ter escolhido a outra? É como subir uma montanha errada e decidir depois que quer descer. Não tem caminho fácil.
– Entendo perfeitamente como se sente. Estou há quatro meses tentando escrever um livro e me questiono diariamente se escolhi  a profissão certa. Quem sabe não devesse ter continuado meus estudos em psicologia?
– Calma aí né Pedro! Eu estou aqui falando de decisões do tamanho de uma montanha e você vem falar da sua pedra no sapato? Sei que não deve ser fácil, mas não se compara com meu problema, pois posso perder uma vida inteira seguindo pelo caminho errado.
Para não discutir, Pedro ergueu o copo para seu amigo e lhe desejou "boa sorte" na "decisão do tamanho de uma montanha" que precisava tomar.
Mal terminou a cerveja, correu para casa, ligou o micro, abriu o processador de texto e escreveu:
"A MONTANHA DE CADA UM
O que pode ser uma pedra no sapato para você pode ser uma montanha para o próximo. Não deixe que sua pedra vire uma montanha. "
 
E naquele instante ele se afastou sua montanha de sua frente e terminou seu livro.