Acostumado a começar o ano quando termina a folia, o País do Carnaval está desfilando uma novidade: em 1999, o Brasil não parou para ver a banda passar. Desde o primeiro dia do ano, os brasileiros trabalham muito e duramente, premidos por uma crise que ainda não deu sinais de arrefecimento. Como o Brasil já viveu crises maiores em outros carnavais e ainda assim parou para entrar na passarela, a novidade de 1999, portanto, reside no fato de que, desta vez, se procura honesta e rapidamente uma solução para melhorar a vida. É um sinal de que a sociedade talvez reencontre o crescimento econômico mais cedo do que se supõe.

Mudar para melhorar é sinônimo de amadurecimento. Ele é incontestável no que se refere ao Carnaval deste ano, mas é algo profundamente discutível quando se mergulha nos ideais que o presidente Fernando Henrique Cardoso pregava num passado recente. A partir da página 20, o leitor poderá comparar os discursos do senador Fernando Henrique com as atuais atitudes do presidente FHC em relação aos temas mais polêmicos do momento: a ajuda do FMI, o arrocho previdenciário, a renegociação das dívidas dos Estados, a composição da base política no Congresso e, especialmente, a astronômica taxa de juros.

Todos esses elementos estiveram presentes em antigos carnavais, sob as gestões do então ministro Delfim Netto e dos ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor. A todos eles, o senador Fernando Henrique fez oposição, com idéias combativas e alternativas que, de tão credíveis, inspiraram a confiança nele depositada, ao longo dos anos, pela sociedade. O homem público pode e deve amadurecer, mudando para melhor suas opiniões, abandonando posições sectárias ou dogmáticas. Não cabe à imprensa criticá-lo, pura e simplesmente, pela mudança de posições. Mas cabe discutir se as novas idéias são efetivamente melhores do que as antigas. É neste ponto que as frases esquecidas por FHC se tornam imperdíveis. Ao longo dos últimos 15 anos, criticou governos que adotaram bandeiras por ele hoje defendidas. Ao longo desses mesmos 15 anos, os grandes problemas nacionais – como a péssima distribuição de renda, o parco atendimento oficial nas áreas de saúde e educação ou o eterno descontrole dos gastos públicos – se agravaram. Para os brasileiros comuns, que neste ano encurtaram o Carnaval para driblar a crise, resta a dúvida do porquê, agora, as idéias do presidente seriam mais eficientes do que as do senador Fernando Henrique.