Olhe a foto ao lado. A cena ocorrida na noite de quinta-feira 4, no auditório do Ministério da Fazenda, não poderia ser mais constrangedora pelo simbolismo nela embutida. Ao misturar a teimosia em manter um câmbio sobrevalorizado com a inépcia em promover o ajuste fiscal enquanto a economia brasileira esteve crescendo, o ministro Pedro Malan deu as costas à autonomia nacional na condução da crise econômica. Desde o último fim de semana, quando uma missão do Fundo Monetário Internacional desembarcou em Brasília, o governo Fernando Henrique Cardoso privatizou a administração das finanças brasileiras. Num primeiro instante, as oposições acreditaram que o novo controlador era o megaespeculador George Soros, até então patrão do novo presidente do Banco Central do Brasil, Armínio Fraga. Chegaram a dizer que, ao trocar o professor Francisco Lopes pelo operador Armínio Fraga, o governo, na verdade, estaria colocando a raposa para tomar conta do galinheiro. Até o momento, contudo, o verdadeiro prejuízo à economia nacional se deu em função de outra substituição: a do ministro Pedro Malan pelo vice-diretor-gerente do FMI, Stanley Fischer.

Com Fraga no Banco Central, o dólar passou a flutuar em torno de um ponto mais equilibrado, algo próximo de R$ 1,80. Foi uma desvalorização mais abrupta do que qualquer operador poderia supor antes da crise, como lembrou em seu último número a revista The Economist. Mas, ao evitar variações bruscas na cotação da moeda, o Banco Central dá a impressão de que o governo tem o controle da situação. Com Fischer na Fazenda, contudo, o governo brasileiro foi obrigado a aumentar os juros para taxas e prazos além do que gostaria e, pior, além do que a produção nacional parece suportar. É na taxa de juros que está a saída para a crise. Os principais economistas concordam que, num primeiro momento, ela deve ser alta, para evitar a retomada da espiral consumo-preços-salários. Ao aprofundar a recessão, os juros elevados ajudam a economia a absorver o impacto da desvalorização cambial sem contaminar fortemente a inflação.

A questão central, portanto, é saber por quanto tempo eles devem permanecer neste patamar. No artigo que escreve a partir da página 28, o ex-ministro Delfim Netto desfia exemplos de outros países para chegar à conclusão de que a credibilidade brasileira só pode ser recuperada com a queda dos juros o mais urgente possível. Ao escolher (ou seria obedecer?) a fórmula do FMI, o governo está exigindo um sacrifício inútil da produção nacional. Afinal, se era para os juros permanecerem nas alturas por um período muito longo, por que mesmo se liberou o câmbio?