Se você precisar de um exame diagnóstico, certamente vai querer o que houver de mais avançado e preciso, como a tomografia computadorizada. Mas uma pesquisa recente feita nos Estados Unidos indica que a preferência pelos exames de diagnóstico por imagem está expondo os pacientes a quantidades perigosas de radiação ionizante, o conhecido raio X. De 1980 até o ano passado, a exposição média, por indivíduo, subiu 600%. O efeito dessa radiação pode levar a mudanças no DNA das células e ao aparecimento de tumores. “Devemos ficar alertas e reduzir a exposição”, disse a ISTOÉ o cientista que liderou a pesquisa, Fred Mettler Jr., do Conselho Nacional para a Proteção contra a Radiação.

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Nenhum cientista está dizendo que você deve entrar em pânico caso o médico solicite uma tomografia para saber com precisão qual a melhor providência a tomar diante do seu problema de saúde. Ela é um exame indispensável em casos críticos e permite salvar muitas vidas. O que os pesquisadores estão fazendo é alertar a classe médica e os pacientes para números que não devem ser negligenciados. Entre os exames de imagem, a tomografia é de longe o que embute a maior carga de radiação. Apenas como comparação, um raio X tradicional de abdome expõe o paciente a um índice de radiação 2,5 vezes menor que uma tomografia. “Mas a diferença do que eles oferecem é a mesma entre uma bala de hortelã e uma ceia de Natal”, diz o médico Aron Belfer, da Unidade Radiológica Paulista.

Para Mettler, contudo, a radiação dos exames traz perigos ainda desconhecidos. “Segundo o FDA, o órgão do governo americano que regulamenta o setor de saúde, uma em cada duas mil pessoas tem chance de desenvolver um câncer por conta da superexposição aos raios da tomografia”, diz o cientista.

Em função desses dados, médicos americanos estão seguindo uma conduta mais cautelosa na indicação. “É necessário avaliar o custo-benefício. Pode ser que outros exames sem radiação, como o ultra-som, forneçam as informações necessárias”, diz Mettler. Os pacientes estão sendo estimulados a questionar as indicações para sofrer o mínimo de radiação. “Devem conferir a dose que receberão”, diz a física Tânia Furquim, especialista em controle de qualidade de equipamentos de radiologia da Universidade de São Paulo (USP). Todo esse trabalho de conscientização leva em conta uma das únicas certezas nessa área: a de que as doses excessivas elevam os riscos de ter câncer, especialmente a leucemia e os de tireóide, mama e pulmão. Os sobreviventes da bomba de Hiroshima, no Japão, por exemplo, foram submetidos a uma dose média de 230 mGy (miligray, a unidade de medida de radiação) –, mas mesmo os que receberam doses entre 50 mGy e 100 mGy tiveram mais tumores do aqueles que não padeceram os efeitos da radiação. E 50 mGy é exatamente a descarga média para uma tomografia de crânio. “Porém é um tecido mais resistente do que a mama ou o pulmão, por exemplo, e suporta doses maiores”, diz Belfer.

No Brasil, estima-se que menos de 25% dos hospitais e clínicas façam acompanhamento e calibragem periódicos dos seus equipamentos de diagnóstico por imagem. Campanhas do Conselho Brasileiro de Radiologia e do Instituto Nacional do Câncer incentivam a prática. “Não é barato e devemse contratar especialistas, mas o controle precisa ser feito para ter segurança da qualidade da imagem e da dose”, diz Belfer. Outro problema é o manejo dos equipamentos. “Muitos operadores de tomógrafos, por exemplo, optam por doses altas para melhorar a imagem, mas precisam aprender a obter isso com menos radiação”, explica o físico Paulo Costa, do Instituto Eletrotécnico e de Energia da USP. Com todos os problemas, contudo, a medicina por imagens é o melhor recurso para detectar precocemente uma doença que, em estágio avançado, é quase sempre fatal.