Há duas semanas, quando o governo levantou a âncora cambial e deixou o dólar flutuar livremente, nem o mais pessimista dos brasileiros imaginava que o País chegaria ao ponto que alcançou na última sexta-feira: o dólar bateu a marca de R$ 2,15 e um festival de boatos – que iam da decretação de feriado bancário a confisco de investimentos – tomou conta do mercado. Era o caso de se invocar aquele famoso grampo: o mercado esteve no limite da ir-res-pon-sa-bi-li-da-de.

De uma hora para outra, a flutuação cambial, que foi saudada como a medida certa por diversos investidores e economistas, nacionais e estrangeiros, deixou de ser uma solução e o quente do dia era falar na criação de um currency board com a conversibilidade do real (em linguagem leiga, um congelamento da moeda, igualzinho ao que se tem na Argentina).

O Brasil chegou onde chegou porque, ao abandonar as intervenções para proteger a moeda, o governo entregou às feras do mercado a obrigação de encontrar o ponto de equilíbrio do real em relação ao dólar. O problema é que, após duas semanas de embate entre os operadores que estavam vestidos de bombeiro e os que desejavam aquecer a cotação cambial, se provou que existe muito mais gente com coquetéis molotov do que com extintores de incêndio.

O País não está em queda livre e por piores que sejam os indicadores da sua economia eles não são suficientes para deixar o Brasil no abismo em que parecia se encontrar na sexta-feira 29. O Brasil concreto continua a produzir, consumir, pagar contas e impostos. Mas este país não pode ser dependente da instabilidade criada pela especulação financeira. Ele precisa de rumo e de juros baixos para criar empregos e melhorar as exportações. Para isso, o governo precisa agir com rapidez, firmeza, integridade e, sobretudo, bom senso.