Encarnação máxima no cinema da personalidade machista, o ator fluminense Jece Valadão morreu em São Paulo, na segunda-feira 27, aos 76 anos, em decorrência de doença renal. Em sua última década de vida, ele se tornou pastor evangélico e abdicou da figura pública do cafajeste que construíra quando isso lhe rendia mídia, admitindo que esse estilo e rótulo estavam fora de moda: “O machão é um tremendo antiquado. Os homens são assim por medo das mulheres que se tornam independentes.” Na verdade, embora o mito do machão tenha marcado a sua carreira, Valadão era um ator versátil e acumulou diversos tipos em seu currículo – é o caso do personagem alegórico, mistura de índio, homem do povo e Cristo, presente em A idade da Terra (de Glauber Rocha), e do bicheiro da minissérie Filhos do carnaval (de Cao Hamburger), o seu último papel na televisão.

Mesmo assim, a fama de machista, construída em grandes interpretações como as que teve em Os cafajestes (de Ruy Guerra) e Boca de Ouro (de Nelson Pereira dos Santos), ficou-lhe colada. Inventor de si mesmo, ele se divertia na razão direta em que irritava uma parcela radical de feministas – as mesmas que criticaram até Chico Buarque quando ele compôs Mulheres de Atenas ao não entenderem que se tratava de uma crítica à submissão feminina. Uma das pérolas de Valadão: “Toda mulher gosta de apanhar do homem certo e na hora certa.” Algo na linha de Humphrey Bogart quando dizia: “Toda mulher entende um tiro na testa.” Bogart nunca matou ninguém, só se divertia com seus tipos. Valadão idem. Era só charme.