Na permanente busca pelas melhores notícias, os jornalistas costumam deparar-se com personalidades extremamente arredias. Pegue-se, por exemplo, o caso do líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Manuel Marulanda, famoso pela alcunha de "Tirofijo" (tiro certeiro). Há 40 anos, ele se embrenha nas selvas colombianas, escapando ora do Exército, ora dos grupos paramilitares que têm na sua cabeça o maior troféu do combate político que dividiu o país. Ao mesmo tempo, Tirofijo comanda um grupo de 12 mil guerrilheiros, que controla quase metade da Colômbia, e é protegido e idolatrado como um mito da esquerda latina.

Tem um inegável poder, a tal ponto que levou o governo americano e o presidente Andrés Pastrana a apelarem para um acordo de paz. Há três semanas, Pastrana foi ao encontro dos guerrilheiros, num evento que mobilizou correspondentes dos principais veículos de comunicação do planeta. ISTOÉ estava lá, mas o editor de Internacional, Cláudio Camargo, e o repórter fotográfico, Alan Rodrigues, tinham outra ambição: eles queriam entrevistar Tirofijo, algo inédito nos últimos dez anos, e fazer as primeiras fotos independentes do líder das Farc em seu acampamento, já que até hoje esta imagem só havia sido fornecida pelos próprios guerrilheiros.

Era uma empreitada jornalística que dependia de organização, credibilidade, ousadia – e uma dose de sorte. A organização da aventura na selva colombiana começou há nove meses, quando Alan Rodrigues estabeleceu contatos com representantes das Farc, em Brasília. Eles apoiaram a idéia de ISTOÉ, amparados na credibilidade e independência da revista, e forneceram uma espécie de salvo-conduto para a reportagem entrar no território da guerrilha. Na quarta-feira, 6 de janeiro, chegaram à pequena cidade de San Vicente del Caguán, no Sudeste da Colômbia e aí tiveram ousadia e sorte. Depois de dois dias no acampamento dos guerrilheiros, Camargo puxou conversa com Marulanda. Talvez por estar com o ouvido treinado para o engatilhar das armas, Tirofijo não se incomodou quando o gravador foi acionado. "A entrevista não estava na combinação e por isso achei que ele poderia se irritar, mas ele continuou a conversar normalmente", relata Camargo. Alan Rodrigues arrancou-lhe algumas fotos posadas após ensinar à mulher do líder guerrilheiro e fotógrafa amadora alguns truques da profissão. "Foi ela quem fez ele concordar com as fotos", conta Alan. Ao retornar ao Brasil, a dupla tinha a mais instigante reportagem já feita sobre a guerrilha colombiana – um justo troféu para quem seduziu uma das personalidades mais ariscas do continente.