Pic_Sustenta.jpg
FIM DA PICADA
A Estrada do Colono abriria uma clareira no verde do Parque Nacional do Iguaçu

O que no início era uma contenda regional se transformou em mais uma bandeira da bancada ruralista no Congresso e agora ameaça um Patrimônio Natural da Humanidade. Trata-se da chamada Estrada do Colono, um caminho que ligava as cidades de Serranópolis do Iguaçu e Capanema, no sudoeste do Paraná. Aberta no começo do século XX, a passagem cortava o Parque Nacional do Iguaçu, criado em 1939. O trecho, que era uma trilha, se transformou em estrada de terra nos anos 50 e quase foi asfaltado três décadas depois. Foi então que a administração do parque percebeu que a movimentação de veículos e pessoas poderia ser nociva para animais e plantas. Começava então um jogo de fecha e abre entre as autoridades. A estrada foi oficialmente fechada pelo governo federal em 2001. Isso não impediu várias ações na Justiça para reabrir a passagem. Neste ano, a disputa chegou à Câmara dos Deputados.

01.jpg

Um projeto de lei do deputado federal Assis do Couto (PT/PR), presidente da Frente Parlamentar da Agricultura Familiar e membro da bancada ruralista, prevê a reabertura do trecho. “Aquele é um caminho ancestral e foi usado inclusive pela Coluna Prestes. E, além disso, o que queremos fazer é uma estrada ecológica. Queremos estabelecer uma ligação entre as pessoas e o meio ambiente”, diz o autor do projeto. Ambientalistas e a administração do parque não pensam da mesma maneira. “Aquela área não tem atrativos turísticos, é só uma região de mata extremamente isolada. Não se trata de uma estrada-parque, mas uma estrada no parque”, diz o diretor de políticas públicas da organização SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani. A escritora e ex-conselheira da entidade Teresa Urban acompanha a polêmica há anos e se preocupa com o futuro de outros parques nacionais. “A criação do termo estrada-parque, como prevê o projeto, é uma mudança na legislação que regulamenta todas as unidades de conservação do País. Com isso, não há um risco iminente só para Iguaçu, mas para todos os parques nacionais”, defende.

IEpag94_Sustenta_Dino(C2).jpg
MATA DE VOLTA
Clareiras como esta são tudo o que resta do que um dia foi a Estrada do Colono

Os deputados argumentam que o fechamento da estrada em 2001 afetou o desenvolvimento da região, uma vez que, para ir de Serranópolis do Iguaçu a Capanema, é preciso percorrer cerca de 120 km, enquanto pela Estrada do Colono seriam 17 km. “Por causa disso, essas duas cidades não se desenvolveram”, afirma o deputado Nelson Padovani (PSC-PR), relator do projeto. Os números mostram uma realidade diferente. De acordo com dados do IBGE, o PIB de Serranópolis mais que dobrou e o de Capanema quase triplicou entre os anos de 2001 e 2010.

02.jpg

Se os ganhos para a economia são duvidosos, as perdas para o ambiente são inquestionáveis. “Se não há mata, a terra é carregada para os rios quando chove, causando assoreamento. No tempo de seca, a poeira mata as plantas. Sei como eram as coisas quando a estrada estava aberta”, diz Apolônio Rodrigues, vice-diretor do parque, que trabalha há 22 anos no local. A votação do projeto acontece em uma comissão criada especialmente para o assunto. A análise está prevista para o dia 3 de abril. Até lá, cabe aos ambientalistas reunir apoio para impedir que uma das maiores reservas de Mata Atlântica do País ganhe uma enorme cicatriz.

Fotos: Age Stock/Keystock; Fernando Souza/Ag. O Dia; Christian RIZZI