Apesar de funcionar na base do "clicar e esperar", o uso residencial da Internet aumenta explosivamente – o que a torna ainda mais lenta. A frustração dos usuários leva a uma demanda por conexões de alta velocidade. Uma das possibilidades é o modem de cabo, sistema que usa a rede de tevê a cabo para acesso à Internet. Seu principal atrativo é a alta taxa de transmissão, que em tese chega a até 10 megabits por segundo (200 vezes mais rápido que um modem convencional).

Realidade nos EUA há dois anos, a tecnologia chega ao Brasil no segundo semestre. É que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estabeleceu as regras para os testes com cable modem, que irão até junho, após o que o serviço será regulamentado. Numa primeira fase, cada operadora de tevê a cabo disponibilizará o acesso por modem de cabo a até três provedores. Depois, qualquer provedor poderá alugar a estrutura das operadoras para oferecer o serviço.

Obrigando as operadoras de cabo a se associarem aos provedores, a Anatel quer evitar a formação de cartéis pelas emissoras. Na verdade, isso irá poupar dinheiro das operadoras, já que para elas próprias fornecerem o serviço teriam que montar um provedor em cada cidade que operam. Nos EUA, ao contrário, as operadoras resolveram esse problema comprando provedores. Numa projeção feita pela Cable Datacom News, boletim que cobre o setor, cerca de 11 milhões de residências americanas (das mais de 73 milhões com tevê a cabo) já poderiam ter modem a cabo. Meio milhão delas já contratou o serviço e a expectativa é de que sejam dois milhões em 2002.

No Brasil é diferente. Temos dois milhões de casas com cabo, motivo que pode levar a achar que há pouca gente disposta a ter um cable modem. É o que pensa Alexander Mandic, presidente do provedor que leva seu nome. "O mercado ainda não apareceu", diz ele. "Ninguém sabe qual será o preço nem quanto o usuário está disposto a pagar." Mas o mercado que Mandic ainda não enxerga existe de fato. O diretor de novos produtos e negócios da Globocabo, Arthur Steiner, está otimista. "Pesquisas mostram que metade da nossa base de um milhão de assinantes tem computador em casa", revela. O modem de cabo vem sendo testado há dois anos em Sorocaba (SP) pela NET, operadora da Globocabo. Foram investidos US$ 8 milhões para 100 residências desfrutarem das delícias de copiar vídeos e softwares em segundos. Embora ressaltando que "ainda é cedo para falar sobre preços", Steiner espera fornecer o serviço a um custo atrativo, "algo em torno do que se cobra pelo acesso à Internet via telefone."

Outra operadora de cabo testando o sistema entre seus funcionários é a TVA, conta José Carlos Alves, seu diretor de tecnologia de informação. "Estamos conversando com os provedores para fazer os testes da Anatel." A TVA estima que entre 10% e 15% de seus 600 mil assinantes adotarão o serviço. "O preço não está definido, mas deve ficar um pouco acima do dos provedores" – ou seja, algo em torno de R$ 50, mensalidade máxima para o serviço nos EUA.

Para Marcelo Lacerda, diretor de tecnologia do Zaz, provedor de 145 mil internautas, existe uma grande expectativa para o cable modem. Por uma questão de afinidade, sua empresa irá se associar à Net Sul, da RBS, grupo que também controla o Zaz. Lacerda no entanto acredita que o custo do serviço poderá estar muito acima dos R$ 50 imaginados pela TVA, talvez além de R$ 100, mensalidade cobrada na Argentina, onde a tecnologia existe há um ano. Lacerda prevê que quem terá mais vantagem no uso do dispositivo será o usuário pesado, que gasta mais de R$ 400 mensais com acesso.