Para cerca de 100 milhões de brasileiros que nasceram e cresceram sob os tempos de inflação alta e correção monetária, os últimos quatro anos da economia brasileira representaram um benefício indiscutível. O modelo adotado pela dupla Pedro Malan-Gustavo Franco tem o inegável mérito de ter vencido a inflação. É muita coisa. Mas ainda é pouco diante dos desafios do Brasil. Foi uma vitória conquistada basicamente graças à âncora cambial que, num primeiro momento, criou um real até mais forte que o dólar, mas levou o País a uma indiscutível dependência externa.

Em suas reportagens, ISTOÉ sempre defendeu o fim da ciranda inflacionária, mas também procurou indicar outras alternativas para que o País alcançasse a estabilização com autonomia nacional. Não fez isso por xenofobia ou por divergências pessoais com o pensamento dominante. Mas por acreditar que a torneira de dólares não jorra para sempre, que um país não pode viver apenas de dinheiro emprestado nem criar empregos exclusivamente com o sobe-e-desce do mercado de ações. O Brasil precisa de produção e exportação. São elas que vão gerar desenvolvimento econômico, mais emprego, melhores salários e, em última instância, ajudar a resolver o principal problema nacional que é o enorme fosso social criado pela má distribuição de renda.

Na última semana, o Plano Real encerrou uma fase e iniciou outra. O País vai pagar duramente pela mudança de rumo. Poderia tê-lo feito antes, quando tinha mais reservas em caixa e mais confiança lá fora. Não o fez por teimosia intelectual, amparada na mistura de arrogância e vaidade excessivas que marcaram a gestão de Gustavo Franco no Banco Central. E por relutância política, alimentada por conselheiros que fizeram o presidente Fernando Henrique acreditar que uma guinada no meio da campanha eleitoral lhe tiraria a reeleição. Para os leitores de ISTOÉ, contudo, a fase que o Plano Real inicia nesta semana esteve presente nas páginas da revista em diversos momentos nos últimos meses. Desde a semana passada, quando a moeda nacional se desatrelou do dólar após uma desvalorização de cerca de 17%, os brasileiros certamente perderam em relação ao padrão americano. Mas ganharam a oportunidade de usar o aprendizado da vida sem hiperinflação para iniciar uma fase de desenvolvimento real.