Primeiro, inventaram o pager. A seguir, penduraram o celular no seu cinto. Em 1998, criaram o assistente digital pessoal (PDA) ou computador de mão, que querem botar no seu bolso. Na falta de outro local para guardar um novo equipamento, as indústrias de eletrônica e de informática estão partindo para a convergência. Começam a fundir dois ou mais aparelhos num só. Um vislumbre dessa convergência foram os controles remotos capazes de comandar a tevê e o vídeo a um só tempo. O passo seguinte se deu com a chegada do celular digital, que, além de voz, recebe mensagens de pager. Esse começo, ainda que tímido, é a marola que precede o maremoto. Em nenhum outro setor da economia a convergência será tão ampla e espantosa quanto na telefonia móvel. A própria palavra celular pode desaparecer. Se depender dos marketeiros, a partir de 2001 começaremos a nos referir ao dispositivo multimídia guardado no bolso como comunicador.

O primeiro esboço desse dispositivo foi o Communicator 9000, usado por James Bond no mais recente filme da série do agente 007. Lançado em 1997 pela Nokia na Europa (onde custa US$ 800), o aparelho une telefone, fax, acesso à Internet e calculadora. Há seis meses, evoluiu para a versão 9110, que sincroniza os dados da agenda com o PC. Não tardou para a holandesa Philips lançar o Trapeze (US$ 450), celular para encaixar num "berço", um computador de bolso com monitor sensível ao toque. A moda também invadiu os EUA, onde a Qualcomm anunciou para março o pdq smartphone, fusão de celular com o Palm III da 3Com, computador de bolso de maior sucesso no mundo, com dois milhões de unidades vendidas. Ainda não há previsão para o lançamento do pdq no Brasil, mas ele tem mais chances de chegar aqui do que os comunicadores da Nokia e da Philips. Baseiam-se na tecnologia celular GSM, líder na Europa mas inexistente no País, dominado pelos padrões americanos TDMA e CDMA, este último usado pela Qualcomm.

Por mais tecnologia que estes telefones tenham, não passam de esboços dos futuros comunicadores, que só saem de fábrica em 2001, juntamente com a terceira geração de celulares. A primeira, analógica, é de 1980 e privilegiou o tráfego de voz. A segunda, digital, foi inventada em 1989 e adicionou o envio de dados que não exigem altas taxas de transmissão, como pager e e-mail. Já na terceira, batizada 3G, o serviço de voz será um de inúmeros. A meta da União Internacional de Telecomunicações, órgão da ONU, é criar um padrão de telefonia sem fio chamado IMT-2000 (de telecomunicação móvel internacional) que leve a multimídia à mão do usuário. Para tanto, o IMT terá altas taxas de transmissão de dados. Hoje, os celulares enviam dados a 14,4 kbits por segundo (14,4 mil bits), bem menos que os 56 kbits de um modem de PC. No caso do celular 3G, a taxa ficará em 300 kbits se o usuário estiver na rua, ou dois mil kbits se estiver em casa ou no escritório. Com essa capacidade, o comunicador terá câmara para videoconferência. Também será possível navegar na Web, movimentar a conta bancária e fazer shopping do banco da praça.

Mas a telefonia 3G reserva outros segredos. Em 1998, IBM, Intel, Lucent, Motorola e outras 200 multinacionais formaram o consórcio Bluetooth para criar um padrão de comunicação infravermelha entre aparelhos eletrônicos. Parte integrante dos comunicadores, essa língua franca digital também estará no scanner, no som do carro e na tevê. Pense nas possibilidades. Ao tirar uma foto dos filhos com a câmara digital, um pai aproxima a máquina do comunicador que "sente" sua presença e copia o arquivo com a foto. O pai pode então trabalhar a imagem e enviá-la num e-mail aos avós corujas. Ao chegar em casa, o mesmo pai será reconhecido pelos aparelhos domésticos. A secretária eletrônica, por exemplo, transferirá ao comunicador as mensagens recebidas. "O exemplo que mais me impressiona é o da companhia aérea cujos aviões estão equipados com o Bluetooth", diz Nelson Lode, da Nokia do Brasil. "O sistema identifica e desliga os celulares dos passageiros no momento em que pisam na aeronave, impedindo que seu uso afete o vôo."

A estatal de telecomunicações japonesa NTT é a primeira empresa no mundo a realizar testes de campo com protótipos do comunicador 3G. Em 2001, quando inaugurar o sistema, 50 milhões de japoneses terão celular. "Dois milhões e meio ou 5% deles serão usuários avançados, sedentos por novas tecnologias e nosso público alvo", diz Kouji Ohboshi, da NTT. Em 2003, quando 830 milhões de seres humanos tiverem celular e 700 milhões acessarem a Web, estima-se em 50 milhões de pessoas o público do 3G. E no Brasil, que fechou 1998 com nove milhões de celulares e, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações, terá 23 milhões em 2003? "É tudo uma questão de demanda. Os primeiros sistemas a sair em 2001 serão caríssimos. Até barateá-los, só em 2004", diz Helder Santos, da Ericsson. "O problema do Brasil é voz. Primeiro é preciso massificar a comunicação para depois sofisticá-la", afirma Santos.