ESTRÉIA O documentário de Fernando Grostein sobre Caetano Veloso fez sucesso no festival É Tudo Verdade

Martin Scorsese estudou para ser padre, Brian de Palma se formou em física e Pedro Almodóvar era mascate. Tornaram- se cineastas graças ao acaso e ao talento. Ao contrário dos mestres, os jovens cinéfilos de hoje têm um caminho a trilhar. O mercado de cinema brasileiro está se profissionalizando. A produção de filmes no País cresce a cada ano, há mais cursos de graduação, maior demanda por profissionais qualificados e mais recursos para fazer filmes. “Hoje, o cinema já é considerado uma profissão ou uma carreira possível”, diz o cineasta Fernando Meirelles, que se formou em arquitetura na década de 70, montou a produtora O2, mas só conseguiu emplacar no cinema em 2001, com Domésticas. “O crescimento da indústria do audiovisual aconteceu depois que filmes como Carlota Joaquina e Central do Brasil trouxeram o público para ver filmes nacionais”, acrescenta Meirelles, que, depois do sucesso de Cidade de Deus, construiu uma carreira internacional.

Os aspirantes a cineastas de hoje sabem que não adianta ter uma câmera na mão e uma idéia na cabeça. “É um mercado que exige noções de gestão cultural e captação de recursos”, afirma Evandro Cunha, presidente do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual. Foi com a consciência de que cinema também é negócio que Fernando Andrade Grostein, 27 anos, se tornou um dos jovens de destaque no mercado atual. Cinco anos atrás, quando gravou dois clipes e um show de Caetano Veloso, teve a idéia de fazer um documentário sobre o artista. Ele acompanhou o cantor na viagem de lançamento do disco A Foreign Sound, com passagens em Nova York e no Japão e realizou o seu primeiro filme, Coração Vagabundo, sucesso no festival de documentários É Tudo Verdade. “Cinema é arte e negócio. Para fazer filmes, a gente precisa de boas idéias e um profissional que veja o potencial de retorno do investimento”, diz ele.

Vencer a falta de recursos para conseguir tirar as idéias do papel é o grande desafio para quem está começando. A cineasta Carolina Paiva, 33 anos, usou a criatividade. Logo após a faculdade, ela elaborou um projeto de documentário das festas populares do Nordeste e apresentou o material às prefeituras das cidades, que aprovaram a idéia. Assim, construiu um portfólio, fez seu primeiro longa e agora finaliza o segundo, um documentário sobre o cantor Genival Lacerda. “O jeito é ter cara-de-depau e correr atrás de patrocínio, sem depender dos incentivos federais”, diz. Muitos iniciantes encontram nas mídias portáteis e na internet uma nova forma de divulgação do trabalho. Malu Teodoro, 21, produziu um vídeo para celular e o material concorreu ao Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro. Só precisou de uma câmera digital e softwares de edição de vídeo. “O celular é uma mídia acessível que nos permite testar várias possibilidades”, afirma.

FABRIZIA GRANATIERI/AG. ISTOÉ

VERBA Carolina filmou festas populares e
conseguiu recursos para um longa

Sete amigos da Universidade de São Paulo (USP) também se valeram da tecnologia para divulgar o que produziram. Depois de disponibilizar o vídeo Matrix Baixo Orçamento no Youtube, eles fecharam uma parceria com a produtora Maria Bonita Filmes e fizeram o curta O Dia do Beijo, que foi exibido no canal Multishow, na semana passada. “Eles têm a tecnologia à disposição e podem testar diversos formatos até encontrarem uma forma de expressão visual”, avalia Roberto Farias, presidente da Academia Brasileira de Cinema e expresidente da Embrafilme. É um caminho para a geração do futuro.