Depois de quatro anos de pesquisas, foi finalmente desenvolvido um recurso que os atletas de ponta mais temiam: um teste para detectar a presença de uma droga de última geração que estimula a produção de um hormônio chamado EPO, que aumenta o desempenho e a performance. O Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou neste mês que usará o novo exame para reavaliar amostras obtidas de medalhistas das Olimpíadas de Pequim, realizadas em agosto.

"Acompanhamos a criação de remédios desde o começo para que, ao mesmo tempo, possamos desenvolver testes antidoping"

Frédéric Donzé, da Agência Mundial Antidoping

A primeira demonstração do poder de fogo do teste, porém, foi dada em julho, durante a realização da 95a. edição da Tour de France, a mais conhecida prova do ciclismo mundial. Foi a estréia na utilização do exame, e os resultados deram uma prévia do que pode acontecer daqui por diante: nada menos do que cinco atletas – entre eles os italianos Leonardo Pierroli e Riccardo Ricco – foram pegos. "A punição para este tipo de infração vai de um afastamento temporário até a exclusão do esporte", diz Eduardo De Rose, responsável pelo setor de antidoping do Comitê Olímpico Brasileiro.

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O exame identifica a presença no organismo da molécula Cera, o princípio ativo do medicamento Mircera, criado pela Roche. Lançado há um ano na Europa – ainda não está disponível no Brasil -, o remédio é indicado para tratar anemia renal, uma séria complicação de doenças renais crônicas. Sua função é aumentar os níveis de eritropoietina, cuja abreviação é EPO. No organismo, o hormônio estimula a produção de glóbulos vermelhos, as partículas do sangue que carregam o oxigênio. A droga caiu nas graças de atletas por duas razões: eleva a oxigenação – e quanto maior, melhor o desempenho – e também pelo fato de ser ministrada apenas uma vez por mês.

A criação do exame antidoping obedeceu a uma nova – e esperta – maneira de trabalho que vem sendo adotada pelos especialistas na formulação destes testes: ela ocorreu simultaneamente ao desenvolvimento da medicação.

"Temos trabalhado com as indústrias farmacêuticas. Acompanhamos o processo de surgimento de remédios desde as primeiras etapas para que, ao mesmo tempo, possamos desenvolver exames antidoping", disse à ISTOÉ Frédéric Donzé, gerente de relações públicas da Agência Mundial Antidoping.