Prensa Três

Todo mundo compra alguma coisa de Abilio Diniz, 67 anos – seja no Pão de Açúcar, no Extra, no Extra Eletro, no Compre Bem/Barateiro, seja, mais recentemente, no Sendas. O grupo constitui a maior rede de supermercados do País, com um número de funcionários – 60 mil – que não deixa espaço para ninguém num jogaço no Morumbi. Ele, esportista de primeira linha, presidente executivo do conselho do grupo, está na Bienal do Livro, que começou quinta-feira 15, em São Paulo. Com a colaboração dos jornalistas Mariella Lazaretti e Ricardo Galuppo, Abílio Diniz escreveu Caminhos e escolhas, livro de leitura agradável e revelações que mostram não só que sob sua administração o Pão de Açúcar mudou muito e para melhor (com a indispensável participação de sua filha Ana Maria Diniz), mas que o próprio Abilio descobriu o equilíbrio para uma vida mais feliz. As perceptíveis arrogância e prepotência ficaram no passado, exatamente em 1989, quando ele passou sete dias e sete noites sequestrado num cubículo de 1,70 m de altura, pouco mais que isso de comprimento e largura. O Pão de Açúcar perdeu o Bom Preço para o Wal-Mart, mas seu exuberante crescimento prossegue. “O emprego nessa companhia oferece muitos benefícios aos empregados, muita atenção; zelamos por nossa gente”, diz ele.

ISTOÉ – Por que o sr. resolveu escrever um livro?
Abilio Diniz
– Eu tenho um compromisso de contar a história que vivi numa família-empresa, numa empresa-família. Você depara com situações como essa em todos os países do mundo. Quando você mistura empresa e família está fazendo mal para os dois. Esse era o meu compromisso comigo mesmo. Comecei a pensar sobre isso dois anos atrás, conversando com muita gente, entrevistando pessoas que poderiam me ajudar a escrever.

ISTOÉ – Mas não foi esse o livro que o sr. fez.
Abilio
– Nessas conversas foi surgindo uma outra idéia. Na transformação
que se passou comigo, aprendi algumas outras coisas. Esporte, por exemplo,
algo que sempre foi importante para mim. Passei a ver o esporte não apenas
como competição, mas também como lazer, como instrumento para ter melhor qualidade de vida e de saúde. Uma coisa que aprendi nessa reconstrução do
Pão de Açúcar, com o trabalho imprescindível da Ana (Ana Maria Diniz, sua filha): reconstruímos uma empresa diferente, inclusive com qualidade de vida para as pessoas que trabalham aqui.

ISTOÉ – O sr. gosta de escrever?
Abilio
– Eu gosto, mas reconheço que não sou um escritor. Muita coisa pode não ter sido digitada por mim, mas está colocada exatamente como eu falei.

ISTOÉ – O sr. parece feliz com as mudanças pessoais e com a transformação do Pão de Açúcar. Neste momento, o sr. também está feliz com o País?
Abilio
– Eu acho que ninguém está feliz com o País neste momento. Nem os dirigentes, nem mesmo o governo. Eu acho que eles (governo) devem estar felizes com aquilo que já foi feito e foi importante. Estamos agora na expectiva do que vem pela frente. Eu estou confiante em que vem o crescimento e de que as bases sólidas para esse crescimento estão criadas. Estou confiante em que as empresas verão as oportunidades de investimento que o País está oferecendo. Este país precisa de poupança, de investimento. Estou esperançoso de que isso venha a acontecer a curto prazo e muito confiante em que vai melhorar para todos os brasileiros.

ISTOÉ – Mas o desempregado está a cada dia mais descrente.
Abilio
– A vida está difícil, muito difícil. E chega um ponto em que as pessoas, cansadas com essa vida, clamam por resultados imediatos. Isso é compreensível. Eu acho que está sendo feito o trabalho. Nós temos dificuldades estruturais sérias, uma dívida enorme, problema de contas externas, um peso muito grande na máquina administrativa e problemas previdenciários. Temos que corrigir tudo isso para ter um Brasil em crescimento.

ISTOÉ – O sr. acha que o governo está seguindo nessa direção?
Abilio
– Acho que o governo está fazendo aquilo que pode e que podemos superar tudo isso. Temos que gritar menos contra a taxa de juros, coisa de curto prazo, e pedir mais pelas reformas estruturais.

ISTOÉ – A população, que, ao expressar sua insatisfação, faz cair o índice de popularidade do presidente e subir a suspeita de que o governo está perdido, se sente traída.
Abilio
– Eu não tenho essa visão. Acho que o governo enfrenta dificuldades principalmente porque tem uma base aliada que não é aliada. Não adianta explicar a situação para quem quer emprego já. É disso que ele precisa e tem direito de exigir, mas ainda não dá. Infelizmente.