Vamos aos fatos. Na quinta passada, dia 14, o São Paulo perdeu (2-1) para o Arsenal, na Argentina, pela Copa Libertadores da América. Ficou em situação delicada no torneio continental. No domingo, dia 17, venceu o Oeste de Itápolis (3-2), pelo Campeonato Paulista, e consolidou sua liderança no estadual. Qual foi a reação de sua torcida? Vaias, xingamentos e pressão para a saída do técnico Ney Franco, além de ferozes críticas ao presidente Juvenal Juvêncio. A exigente torcida são-paulina não está nem aí para o fato de o tricolor não ganhar um certame estadual desde 2005. Ela quer um título internacional ou, no mínimo, um nacional (Campeonato Brasileiro ou Copa do Brasil), comemorado pela última vez em 2008.

No Paraná, o Atlético (campeão brasileiro de 2001 e estadual de 2009) ignorou o fato de o arquirrival Coritiba (campeão brasileiro de 1985) ser o atual tricampeão paranaense — preferiu disputar o primeiro turno com jogadores reservas, enquanto o time titular fazia excursão no exterior.

Os campeonatos estaduais ainda existem para que os presidentes das federações sejam eleitos pelos presidentes dos pequenos times do interior (que querem ver os grandes em suas cidades). Eles pertencem ao passado. A estrutura esportiva do futebol brasileiro teve três cortes importantes. Em 1959, um ano depois da conquista da Copa do Mundo na Suécia, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) instituiu a Taça Brasil, com a participação dos campeões estaduais. Em 1971, um ano após o tricampeonato no México, a CBD criou o Campeonato Brasileiro, com a participação dos chamados “12 grandes” e mais oito convidados. O terceiro corte foi em 1987, quando surgiu o Clube dos 13 (na época formado pelos “12 grandes” + o Bahia) para disputar a Taça de Ouro entre eles e mais sete convidados. Já no começo dos anos 90 os estaduais deixaram de ter relevância esportiva — situação que vem se agravando a cada ano.

O melhor exemplo dessa situação é o Atlético Mineiro, que ganhou o Campeonato Brasileiro em 1971 e há 42 anos está na fila para ter outro título importante. Nessas quatro décadas, o Atlético foi campeão mineiro 18 vezes. E a torcida comemorou muito a maioria dessas conquistas. Mas com o tempo elas foram perdendo relevância, assim como os 20 títulos estaduais de seu maior rival, o Cruzeiro. Para piorar a situação, enquanto o Atlético foi vice-campeão brasileiro quatro vezes (1977, 1980, 1999 e 2012), o Cruzeiro faturou o Brasileiro (2003), a Copa do Brasil (1993, 1996, 2000 e 2003) e a Copa Libertadores (1976 e 1997), sem contar títulos menores, como a Copa de Ouro (1995) e a Recopa Sul-americana (1998).

Tirante os estaduais, nos últimos 42 anos o Galo ganhou apenas a Série B de 2006 (o que não é motivo de orgulho para os grandes times) e a irrelevante Copa Conmebol (1992 e 1999), que é a atual Copa Sul-americana, ou seja, uma espécie de segunda divisão de luxo da Libertadores. Até a Copa Sul-Minas, um torneio regional disputado de 1999 a 2002, ficou três vezes com os rivais do Atlético (América em 2000, Cruzeiro em 2001 e 2002). Provavelmente, a apaixonada torcida do Galo gostaria de trocar as últimas 10 conquistas estaduais (1986 a 2012) por um dos títulos nacionais que perdeu, em 1999 (Corinthians) e 2012 (Fluminense).

Isso explica a atual euforia da torcida atleticana pela liderança de seu grupo na Libertadores, bem como o mau humor da torcida são-paulina, apesar da liderança no que foi o Paulistão, mas hoje é só o Paulistinha.