Programas nem um pouco educativos e desenhos violentos ainda não estão com os dias contados. Mas pelo menos durante meia hora diária a Rede Globo voltará aos velhos tempos da Vila Sésamo e do Sítio do Pica-pau Amarelo. Às 8h30 da segunda-feira 11, dentro do Angel mix de Angélica, estréia no Brasil a série inglesa Teletubbies, destinada a crianças de até cinco anos. Tubbie, em inglês, significa fofo, cheinho ou gordinho. Um batismo perfeito para as quatro criaturinhas coloridas e gorduchas, que passam o tempo andando por um gramado verdíssimo, repleto de flores, cataventos e alto-falantes em forma de telefones gigantes. Tinky Winky, o mais velho, Dipsy, Laa-Laa e Po, o caçula, são bonecos felpudos de rosto híbrido, com gente dentro. Parecem ETs com mistura de homem e macaco. Eles estrearam na BBC inglesa no começo de 1997, viraram mania na ilha da rainha Elizabeth e ganharam o mundo.

Pela reação das crianças brasileiras ligadas na série por laços com o estrangeiro, é fácil deduzir que a febre Teletubbies vai estourar também no Brasil. A estrutura da série é simples. Liderados pelo roxo Tinky Winky – que por causa da cor, na Inglaterra virou ícone gay –, eles acordam e passeiam pelo enorme gramado, pulando, marchando, dando cambalhotas ou demonstrando afeto um pelo outro. Quando menos se espera, um catavento começa a girar espalhando estrelas brilhantes. É a senha de que algo curioso ou educativo vai acontecer no mundo dos Teletubbies.

Diferentemente da saudosa Vila Sésamo, que aportuguesou o nome de alguns personagens, os Teletubbies chegarão ao País com a mesma grafia e sonoridade inglesas. Segundo o diretor de Desenvolvimento de Projetos da Rede Globo, Roberto de Oliveira, não há perigo de estranhamento. "A regionalização de nomes não é mais uma necessidade num mundo globalizado como o nosso. Sobretudo em produtos dedicados à criança atual, que está exposta e muito familiarizada com a velocidade e a abrangência da informação que recebe", garante Oliveira. Os irmãos cariocas Raoul, nove anos, e Daniel, oito, filhos da jornalista inglesa Diana Kinch, conheceram os Teletubbies numa viagem que fizeram a Londres e não vêem a hora de assisti-los por aqui. "Po é o mais simpático. Eles têm uma televisãozinha no meio da barriga e ajudam as crianças a aprenderem coisas", adianta Raoul. "É legal! Gosto das cores e dos nomes deles", opina Daniel.

O badalado caráter educativo da série é fincado em três pilares. Repetição de informações, ritmo lento e associações básicas. Pequenas reportagens sobre hábitos e culturas de vários lugares do mundo também serão exibidas diariamente. Em muitos episódios há a participação de elementos virtuais criados por computadores como elefantes, girafas e sapos. Aqui, mais uma vez a Globo recorreu aos préstimos da consultora infantil Patrícia Lins e Silva, que aprovou a série sem restrições.

Mas nem tudo são flores e coelhos na terra encantada dos Teletubbies. Os quatro bundudinhos foram protagonistas de polêmicas na Inglaterra. Paula Terra, coordenadora de artes do British Council no Rio de Janeiro, acompanhou de perto as controvérsias. "A linguagem tatibitati usada por eles é recheada de erros em inglês. Além disso, alegou-se que os bonecos são assexuados, o que poderia causar confusão na cabeça das crianças." Para todos os efeitos, a verdinha Dipsy e a amarela Laa-Laa são do sexo feminino.

No limite entre realidade e ficção, o visual lisérgico ainda assustou alguns educadores conservadores britânicos. Mas agradaram em cheio a turma notívaga. Em Londres, a nação clubber, acostumada a dançar até o sol nascer, ao chegar em casa às sete da manhã não deixa de assistir, chapadona, às estrepulias campesinas dos Teletubbies. "A analogia com o ecstasy foi inevitável pelo caráter psicodélico dos cenários", conta Paula Terra. Como era de se esperar, já existem seitas anti-Teletubbies e até mesmo uma página na Internet com uma "câmera de execução dos Teletubbies" em que diariamente um da turma é morto virtualmente. "Oh-oh", diriam eles, num dos jargões mais populares da série.