Com a cerimônia de posse do segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso marcada para 1º de janeiro, é inevitável que, na retrospectiva de 1998, se faça o balanço não de um, mas de quatro anos. Em linhas gerais, trata-se de uma conta positiva para o País e favorável ao presidente. Nessa fase, o Brasil viveu o mais longo período de estabilização econômica de sua história recente. Alcançou índices de inflação só vistos em países europeus. As principais políticas sociais deram algum resultado: aumentou-se consideravelmente o número de crianças na escola e diminuiu-se a taxa de mortalidade infantil. A questão da reforma agrária perdeu em radicalismo porque ganhou no total de assentados.

Visto pelo prisma deste distanciamento histórico, o Brasil melhorou. Mas o ano em que perdemos a final da Copa do Mundo não deixa motivos para comemoração. A produção agrícola estagnou na casa dos 80 milhões de toneladas de grãos, o desemprego bateu recordes, a dívida interna alcançou a marca dos R$ 300 bilhões e o governo decidiu cobrar mais e mais impostos da sociedade apenas para pagar a conta de uma taxa de juros impagável. Do confronto entre o que FHC fez em três anos e o que desfez em 1998 com uma política monetária altamente recessiva, revela-se a dimensão política de seu governo. Ele foi melhor nas ações assistenciais, entregues a seus diletos amigos do PSDB, do que na condução econômica, a cargo da dupla Pedro Malan-Gustavo Franco.

Para quem prometeu acabar com a fome e a miséria, como Fernando Henrique o fez no discurso de posse de quatro anos atrás, o primeiro mandato chega ao fim sem atenuar a dívida social com os milhões de excluídos do Brasil. Nesse período, o presidente tocou um governo marcado por uma constrangedora inversão de expectativas – começou muito bem, com um crescimento econômico superior a 4% e terminou muito mal, com um índice de apenas 0,5%. Baixar os juros, retomar o desenvolvimento e melhorar a distribuição de renda são os únicos caminhos possíveis para que o segundo mandato seja uma auspiciosa confirmação de expectativas – comece muito mal e termine muito bem.