O juiz federal Rodrigo Kravetz, titular da 2ª Vara Criminal em Foz do Iguaçu, vai receber nesta semana um caso complicado. A papelada tramita em segredo de Justiça e é o resultado de seis meses de investigação da Polícia Federal contra um delegado destacado para investigar crimes financeiros na fronteira com o Paraguai e caçar seus autores. O nome dele é Davi Makarausky, e a convicção de seus superiores é de que ele foi cooptado por um grande doleiro paulista para destruir as provas existentes contra o criminoso e liberar parte de seu patrimônio, bloqueado pela Justiça. A comissão de inquérito e a corregedoria da Polícia Federal só não conseguiram encontrar dinheiro sem origem na conta de Maka-rausky. Mas constataram que ele adulterou provas e tentou desbloquear, sem sucesso, as contas do doleiro, nas quais estariam depositados R$ 4 milhões.

A bolada pertence a Sílvio Roberto Anspac, doleiro envolvido com o esquema dos precatórios e que hoje mora fora do País. E a prova manipulada é o valioso arquivo de um de seus computadores, apreendido no ano passado. Ali estavam gravados nomes de pessoas, números de contas bancárias e valores que dariam pistas importantes sobre alguns criminosos graúdos. Pistas que, de acordo com o inquérito, sumiram quando a tecla “delete” foi pressionada por Makarausky. Era menos um problema para a distribuidora Investsul, de Anspac, que em fevereiro deste ano foi retirada do mercado financeiro após um acordo com o Banco Central (BC). A folha corrida da instituição justifica o cartão vermelho. Em 1994, a Investsul foi envolvida com lavagem de dinheiro ao ser flagrada pelo BC realizando operações suspeitas com o Banco do Estado de Rondônia (Beron). Em 1997, acabou citada pela CPI dos Precatórios como uma das parceiras da distribuidora Split, uma das que mais ganharam no esquema viciado dos títulos emitidos por Estados e prefeituras para pagar dívidas judiciais.

Pressionado pelas investigações, Davi Makarausky nega tudo e ameaça denunciar irregularidades na delegacia da PF em Foz do Iguaçu. “É um absurdo. Eu jamais apreenderia um computador para depois apagar as informações ali gravadas”, defende-se Makarausky. As evidências em contrário, entretanto, são muitas. Em dezembro de 1998, o delegado recebeu Anspac em seu escritório, em Foz do Iguaçu, para um encontro reservado. Dias depois, foi visitado por Luiz Fernando Anspac, sobrinho do doleiro. Na presença de um escrivão, gravou num disquete dados do computador apreendido na Investsul e entregou-o ao visitante. Em seguida, apagou os dados, destruindo as provas. Em depoimento na PF, o escrivão, cujo nome é mantido em segredo, confirmou o episódio. A perícia feita no computador também acusou a fraude. Além disso, a fracassada tentativa de desbloquear o dinheiro de Sílvio Anspac também está provada. “Ele me pediu que liberasse o dinheiro, mas eu não autorizei”, conta o juiz federal Rony Ferreira, da 1ª Vara Criminal de Foz, que cuidava do caso na ocasião. Se for condenado, o delegado pagará caro pela manipulação de provas que vinham sendo perseguidas há meses. A pena recomendada pelo comando da Polícia Federal, em Brasília, é de pelo menos dois anos de detenção, além do afastamento imediato e da demissão ao final do julgamento.