A transposição das águas do rio São Francisco, fundamental para a perenização dos rios de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, parece que vai mesmo sair do papel. Em janeiro, o Ministério da Integração Nacional realiza, junto com o Ministério do Meio Ambiente e o Ibama, as audiências públicas sobre o impacto ambiental nos quatro Estados que receberão as águas do São Francisco. No mesmo mês, o projeto básico de engenharia será mostrado à população dos Estados. O passo seguinte, de acordo com Rômulo Macedo, secretário nacional da Infra-Estrutura Hídrica do Ministério, e responsável pelo projeto de transposição, será a abertura de concorrência pública para escolha das empresas que executarão as obras. “O projeto já é uma realidade e as obras poderão ser iniciadas, se tudo correr bem, ainda no primeiro semestre do ano 2000”, afirma Rômulo Macedo. Ele acredita que, se os recursos necessários para as obras – R$ 2 bilhões – forem mantidos no Plano Plurianual (PPA), a transposição será inaugurada em três anos. “O ministro Fernando Bezerra está lutando para manter as verbas e espera o apoio dos parlamentares e dos governos dos Estados que serão beneficiados para isso”, diz Macedo.

Se as promessas do governo forem cumpridas, um sonho dos nordestinos acabará com situações dramáticas como a que passa a Paraíba, por exemplo. Três anos de seca na região do Cariri-Curimataú, onde ficam 96 dos 223 municípios do Estado, deixaram essas cidades sem água potável. “Há um ano a região depende de latas d’água para ter um mínimo de água para beber, pois até os poços e açudes secaram. A seca já está atingindo cidades grandes como Campina Grande, com 400 mil habitantes”, alerta o senador Ney Suassuna (PMDB-PB). O senador, acompanhado de toda a bancada da Paraíba, teve audiência com o presidente, na qual, além de prioridade para a transposição, foi pedida uma ação de emergência para o Estado, com a criação de frentes de trabalho para mais de 100 mil pessoas na área de seca e a perfuração de poços. Apelo semelhante a FHC foi feito, através de ofício em 8 de novembro, pelo deputado Francisco de Assis Quintans (PMDB-PB) e todos os demais integrantes da Assembléia Legislativa da Paraíba. O presidente da Assembléia, deputado Antônio Nominando Diniz, alerta que um milhão de pessoas estão em situação calamitosa, sem água e sem ter como sobreviver, se uma ação imediata não for feita. Foi solicitada ainda uma audiência com o presidente, com a presença de senadores, deputados federais, estaduais e prefeitos, para pedir urgência no projeto da transposição, considerado a única saída para a região. Os deputados alertam ainda para estudos de técnicos da Nasa que prevêem mais três anos de secas para o Nordeste, especialmente a região do semi-árido da Paraíba.