Os procuradores Carlos Mota e Antônio Rodrigues, dois servidores do INSS, há anos protagonizam uma investigação digna dos romances policiais de Sherlock Holmes, o inspetor britânico dos casos impossíveis de Conan Doyle. Em 1992, por puro acidente, ambos começaram a apurar o gosto pela pintura e a farejar obras extraviadas do acervo pessoal do pintor Tomás Santa Rosa, falecido em 1956. Os quadros, todos muito valiosos, deveriam estar bem guardados num museu público. Mas acabaram servindo para acumular poeira em gabinetes do INSS em Brasília. Algumas coincidências levaram Mota e Rodrigues a identificar o primeiro quadro em 1997. “É uma cena típica do mundo carioca nos anos 50”, lembra Carlos Mota, envaidecido com a primeira descoberta, feita numa das salas da procuradoria do próprio INSS. O quadro, que retrata uma roda de samba quase foi parar no almoxarifado quando transferido do Rio para Brasília, devido a um rasgo na tela. “Há um tesouro perdido e também escondido, uma vez que há obras extraviadas. E mais: qualquer um pode botar um quadro desses embaixo do braço e levar embora”, diz Mota, preocupado com o destino das obras valiosas que já encontrou.

Quem não reconhecia o valor dos quadros eram, curiosamente, seus admiradores cotidianos. “Não sabia que tudo isso estava na minha sala”, espanta-se o procurador-geral do INSS, Marcos Maia, que tinha pendurados na parede dois quadros de Santa Rosa e uma gravura de Picasso, todos do acervo pessoal de Santa Rosa. “Vamos tomar alguma providência. Temos de proteger esse tesouro”, emenda o diretor de Patrimônio do INSS, Paulo Taunus, ainda sem saber exatamente o que fazer com as relíquias que tem guardadas.

Quem tem planos para as obras de Santa Rosa e seu acervo, além de outras tesouros perdidos na Esplanada dos Ministérios é o secretário-geral da Presidência da República, Aloysio Nunes Ferreira. “Devemos reunir essas obras que estão escondidas nos corredores e salas da burocracia brasiliense e montar uma grande exposição permanente ou museu”, sugere o assessor presidencial. É o tipo de idéia que exige apenas uma penada do presidente Fernando Henrique Cardoso para limpar o pó de dezenas de obras que fazem parte da história da arte e da memória nacional. A proposta já tem um entusiasta de primeira hora: o procurador Carlos Mota, farejador dos quadros de Santa Rosa. Presidente da Associação Nacional dos Procuradores da Previdência Social (Anpprev), Mota garante que, se encarregado da tarefa, poderá encontrar várias obras esquecidas pelos gabinetes de Brasília. “E não acho difícil achar também os outros quadros do Santa Rosa”, promete. No final dos anos 50, essas obras estavam no museu que leva o nome do pintor, no Rio de Janeiro e pertenciam ao extinto Instituto de Pensões e Aposentadorias dos Servidores do Estado (Ipase), que antecedeu ao INSS. Na mudança desse patrimônio para Brasília, alguns quadros foram dados como extraviados. Os procuradores Carlos Mota e Antônio Rodrigues também contabilizam entre seus achados uma mesa secular que teria pertencido a Rui Barbosa. O móvel está com o tampo de vidro quebrado e toscamente remendado com fita adesiva. Ao seu redor acontecem reuniões de uma das obscuras câmaras do Conselho de Recursos do INSS. Agora, animados com as primeiras descobertas, os dois querem mostrar que quem de fato procura acha.